Sabemos bem que os programas de talentos, dignos de grandes audiências, são uma incógnita para as carreiras daqueles que buscam neles a sua sorte – por vezes, são “sol de pouca dura”: acaba o programa, termina o sonho. O mercado português é muito pequeno para ser capaz de absorver todos os talentos vencedores destes programas, ainda que os prémios sejam uma carreira na música, ou pelo menos o lançamento para uma carreira.
Os formatos destes programas são diferentes, embora todos se resumem a um só objetivo: a música e o espetáculo. Engraçado como a globalização até aqui está presente; se antes nos contentávamos com os programas lançados por cá (cópias de formatos estrangeiros), atualmente grande parte dos espetadores são consumidores dos mesmos formatos realizados noutros países (coisas que a TV de subscrição nos oferece e no qual nos viciamos).
A razão de estar a escrever esta crónica, na madrugada de segunda, é inspirada num programa de talentos: o Factor X, da SIC. Este Domingo assisti à 10ª Gala, onde muito talento e grandes vozes marcaram presença (Pedro Abrunhos, Rita Guerra, Dengas e Áurea) para duetos com os concorrentes.
Porém, aquilo que me faz escrever neste momento é a segunda atuação de D8 – o jovem de 16 anos – que vem conquistando o público com o seu RAP - um formato de música nem sempre apreciado pelas massas - e com as suas letras que espelham a sua realidade.
Se inicialmente este rapaz pouco me conquistou, a ponto de achar que a sua permanência no programa seria breve, pouco fugaz e ofuscada por outras grandes vozes e talentos, hoje “tiro-lhe o meu chapéu” pela forma como foi crescendo ao longo do programa e pela sua capacidade na escrita de letras com um grande sentido, conteúdo e capaz de transmitir a mensagem que deseja (independentemente da subjetividade dessa mensagem). Ao longo do programa comecei a achar que mesmo que ficasse pelo caminho e não chegasse à final, este jovem teria um dia uma carreira na música e uma carreira com sucesso porque as suas letras tocam as pessoas e são aquilo que elas querem ouvir.
As mensagens podem ser simples - mas é isso que a música precisa: mensagens simples para que todos sejam capazes de entender e discordar ou aceitar. As letras necessitam de ser coerentes – são elas que fazem as grandes músicas que perduram muito mais que umas semanas nos tops (custoso saber que existem letras de sucesso sem sentido algum, mas que servem para fazer as pessoas cantarolarem).
D8 nesta gala tocou muita gente, até os elementos do júri, com a letra “Feliz Dia do Pai”, onde fala da ausência sem porquê do seu pai na sua vida. Nem sempre se encontram palavras que possam descrever esta capacidade de exprimir uma vivência e a capacidade de contagiar o público com uma letra simples, mas tocante, mesmo para aqueles que não passaram pelas mesmas dificuldades que este jovem. Foi capaz de provocar nas pessoas a consciência da importância de um pai na vida de um filho. Foi uma letra dura.
Não encontro mais palavras que possam descrever o talento deste rapaz, que esteve em risco de não ser escolhido, mas o destino (sabe-se lá outra coisa) provocou a mudança de ideias e daqui saiu uma grande surpresa: um artista com o Factor X.
Independentemente do seu futuro no programa, muitos estarão curiosos com aquilo que este rapaz nos dará no futuro: esperemos que muito mais.