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BLOGUE DO MANEL

A vida tem muito para contar e partilhar com os demais. Esta é a minha rede social para partilhar histórias, momentos e pensamentos, a horas ou fora de horas, com e sem pés nem cabeça. Blogue de Manuel Pereira de Sousa

BLOGUE DO MANEL

A vida tem muito para contar e partilhar com os demais. Esta é a minha rede social para partilhar histórias, momentos e pensamentos, a horas ou fora de horas, com e sem pés nem cabeça. Blogue de Manuel Pereira de Sousa

SOMOS UM BOM POVO!

Manuel Pereira de Sousa, 15.01.17

Donald Trump está quase a tomar posse. Até lá vamos assistindo às despedidas de Obama e de toda a sua equipa. Nesta ronda das despedidas, saltou-me a curiosidade da despedida do Embaixador dos EUA em Lisboa, aquele que foi muito falado na altura do Euro 20016, pela sua forte confiança na vitória de Portugal.

Nesta hora da despedida, deixou uma mensagem de coragem aos portugueses e deixou o povo português de “peito cheio” ao considerar-nos como o povo mais acolhedor e o melhor povo do mundo. É tão bom ouvir esta opinião, independentemente de onde venha e da simpatia que se possa ter pela pessoa. É nestes pequenos reconhecimentos que me enche o orgulho em ser português. Não somos nem pequenos, nem tacanhos, nem tão pouco mesquinhos como nos achamos muitas vezes ou como, cá dentro, alguns nos querem apelidar. Somos simplesmente grandes, acolhedores e capazes de fazer grandes feitos. Precisamos sim, muitas vezes, é de pessoas que nos saibam liderar e conduzir para os grandes feitos dos quais fomos sempre capazes ao longo da nossa História.

PORTUGAL: PAÍS DE CAMPEÕES!

Manuel Pereira de Sousa, 12.07.16

Portugal é um país de campeões. É com orgulho que qualquer português o pode dizer. A prova disso? Ganhámos em todas as frentes. Para além da Seleção Nacional ganhar o campeonato Europeu de Futebol, outros troféus se juntam nestes dias: Sara Moreira sagrou-se campeã europeia da meia-maratona, Patrícia Mamona foi campeã de triplo salto – ambas trouxeram ouro -, Dulce Félix foi vice-campeã europeia na categoria dos 10 mil metros – prata – e Jéssica Augusto terceira classificada da meia-maratona – bronze.

Somos um país de campeões. Que todos se lembrem disso nos momentos em que nos apontarem o dedo como os coitadinhos. Coitadinhos? O nosso mal é sermos um país mal governado e gerido pelas pessoas erradas; se assim não fosse acredito que seríamos uma pequena potência, onde se juntam milhares de profissionais nas mais diversas áreas. Para além de massa musculada para o desporto, existe muita massa cinzenta – a prova disso é recetividade que os nossos profissionais têm no exterior. Somos um grande país e um grande povo – mesquinho, às vezes -; mas dificilmente se encontra por esse mundo pessoas tão espetaculares como nós.

EURO 2016: GANHÁMOS. ATÉ EUSÉBIO SALTOU NO PANTEÃO.

Manuel Pereira de Sousa, 11.07.16

Os portugueses explodiram de alegria. Deixaram que o grito contido saltasse para o exterior. Precisavam os portugueses de deitar a cabeça no travesseiro com rouquidão na voz de tantos gritos de alegria e de tanto êxtase.

Crónica de uma vitória anunciada - era o título do meu último artigo neste blogue. Uma vitória anunciada foi o que aconteceu ontem. Vitória saborosa frente à França. Ganhámos. Sofremos. Ganhámos. Tivemos esperança. Ganhámos. Era esse o nosso fado. Ganhar. Ser campeões. A vitória limpa. Ninguém a pode contestar. Vitória sem margem para dúvidas - quem as tiver que reveja o golo. Esta vitória é para muitos, sobretudo os mais velhos, um acerto de contas com o passado por uma anterior derrota frente aos franceses. Esta vitória é uma lição para os que diziam à boca cheia que Portugal não merecia estar no Europeu - esta vitória tira todas as dúvidas e deixou muitos críticos de boca aberta. Críticos não existiam só lá fora. Por cá, a esperança na chegada às meias finais era mínima. Havia quem achasse a Selecção murcha, incapaz de ganhar no tempo regulamentar. Queriam um futebol mais bonito e exibicionista - que não combina com resultados. Se passamos todas as fases e a selecção se tornou campeã, significa que o importante é ser eficaz - mais resultados e menos manias. Merecemos esta vitória pelo sofrimento que tivemos durante todo o jogo e pela esperança que os nossos jogadores transportavam. Merecemos este resultado pela lição que demos ao mundo, acerca da integração de pessoas com as mais diversas origens e em quem valeu a pena acreditar (a prova de que os nacionalismos não são as glórias dos países). O jogo da final provou que a equipa é mais que o protagonismo do Cristiano Ronaldo e que consegue ganhar sem este dentro das linhas de campo - duvido da mesma capacidade da selecção sem Ronaldo por perto, nem que seja no banco. Ronaldo sagrou - se campeão por ser mais que um jogador, por ser também o capitão que eu duvidei, por ter chorado sem vergonha no momento em que a sua condição física não lhe permitiu mais, por ser o motivador fora de campo e querer transmitir aos colegas a garra que estava dentro de si. Merecemos ganhar pelo treinador que está aos comandos da selecção nacional - integridade, motivação, capaz de apostar naqueles que qualquer outro colocaria fora das suas opções. Merecemos ganhar pela necessidade de uma glória nacional que tanto necessitamos para revigorar o patriotismo ameno. Somos saudosistas e tristonhos porque a vida não oferece o desafogo que merecemos. Os portugueses explodiram de alegria. Deixaram que o grito contido saltasse para o exterior. Precisavam os portugueses de deitar a cabeça no travesseiro com rouquidão na voz de tantos gritos de alegria e de tanto êxtase. Obrigado Selecção pela alegria que provocaram nos nossos corações. Eu escrevi num post anterior que o Napoleão deveria dar voltas no túmulo e deu; além do Eusébio que saltou no panteão a comemorar a vitória. A França engoliu parte do seu orgulho e de cada vez que se cruza na História com Portugal fica sempre um sabor amargo. Mas afinal, o que seria da França sem os portugueses? Viva Portugal!

EURO 2016: AMANHÃ NAPOLEÃO DARÁ VOLTAS NA SEPULTURA

Manuel Pereira de Sousa, 09.07.16

Independentemente do resultado final da disputa entre a Seleção de Portugal e de França, podemos manter o orgulho nacional pelo feito conseguido. Eu e muitos querem que Portugal ganhe. Espero e desejo muito esta vitória. Será uma alegria imensa para o meu coração. Espero que igualmente para o coração de todos os portugueses. Espero mais uma vez arrepiar-me ao ouvir o hino nacional nesta final – o mundo vai ouvir e vai sentir o desejo de também ter a sua seleção ali. Ao ouvirem o hino pensarão: Portugal existe, não é província de Espanha; aqueles craques da bola são mesmo bons. Os Franceses vão engolir aquilo que pensam de Portugal, sobretudo quando disseram que Portugal não deveria estar neste Europeu. É do catano. Os franceses não contavam com esta. Poderia falar aqui da relação entre franceses e portugueses que emigraram, mas fica para outra discussão. Sinto-me contente por saber que o Napoleão, onde quer que esteja, dê voltas e voltas na sepultura porque na disputa entre Portugal e França as coisas não são fáceis e, apesar de pequenos, somos duros de roer – o fulano, o Napoleão, vai lembrar das tentativas de invasão a Portugal mal sucedidas. O meu fervor pela Seleção Nacional não está nada relacionado com fervor futebolístico – de futebol pouco percebo -, está sim relacionado com o orgulho pela equipa, pelo país, pela lição que fica para a Europa: Uma seleção com mistura de cor, origens, com o mesmo amor e orgulho. Enquanto uns se querem fechar ao mundo contra a vinda de emigrantes, nós provamos em campo que, com abertura, podemos construir algo poderoso. Aos nossos jogadores obrigado. Força. Pela vitória lutar, lutar. Não interessa jogo bonito; interessa ganhar.

EURO 2016 - CRÓNICA DE UMA VITÓRIA ANUNCIADA

Manuel Pereira de Sousa, 08.07.16

Jogava Portugal e País de Gales. O país tinha parado para assistir à partida. O país estava em suspenso. Nem o respirar das pessoas se ouvia. Estava tudo recolhido nos cafés, restaurantes, em casa, nas praças com ecrã gigante. O sentimento era comum entre todos – fanáticos, simpatizantes ou simplesmente desligados. O orgulho nacional estava em causa – queríamos cantar de galo.

A primeira parte do jogo tinha perigos, mas estava a perder aquele entusiasmo e para não me irritar com as falhas liguei a telefonia; na rádio o relato é melhor – tem mais vida. A segunda parte começou morna para quem estava sedento de golos. Aproveitei o momento calmo e decidi ir à farmácia comprar os comprimidos que estava a precisar com urgência; mas para não perder nada do jogo levei o rádio do telemóvel com os auscultadores. Preparado saí de casa. Ainda à espera do elevador aconteceu o primeiro golo. Brutal. Espetáculo. A esperança começa a ser cada vez mais real. Viva. Volto para trás para ver na televisão o golo do Cristiano? Não já passou. Fogo, pela vivacidade do locutor da TSF isto foi mesmo brutal – é um golo, é sempre brutal. Volto para trás, não volto. O locutor canta o bailinho da Madeira com letra de sua autoria adequada ao momento. Não, prefiro ouvir a música e esta emoção que a ver a repetição do golo. Continuei a minha ida à farmácia.

Entro. Não há clientes. Os quatro funcionários estavam no balcão do canto a ver o jogo através da modernidade do PC. No momento em que me viram chegar desmobilizaram; uma foi talvez para o armazém; outra veio para o balcão onde estava; a senhora das limpezas fez a parte de limpar o balcão onde estava (já devia estar mais que limpo pensei, era a reação mais rápida para mostrar que estava a trabalhar); o senhor ficou no mesmo sitio a ver o jogo. Pedi a caixa de comprimidos e no vai e vem da senhora aconteceu o segundo golo. Quando a senhora chegou à caixa disse:
- Foi golo.
- Sim, estamos a ganhar – disse a senhora.
- Foi outro.
A senhora ficou com um ar estranho a olhar para mim - estaria a pensar que eu estava alucinado das ideias -, olhou desconfiada para o colega que tem os olhos pregados no monitor a dar indicações indiretas que eu estava a falar de outro golo. O senhor ficou com um olhar estranho para mim, a tentar perceber o que se estava a passar porque afinal o primeiro tinha sido há três minutos. A senhora das limpezas e a outra funcionária voltaram a correr para o monitor e com a cabeça lá enfiada estavam a abana-la porque não percebiam porque falava eu num golo e nada tinham visto. Duvidaram logo da tecnologia.
- O senhor está a ouvir no rádio e sabe primeiro – explicou o funcionário.
Paguei. Saí. Deixei os quatro novamente mergulhados no monitor a tentar ver o que iria acontecer. Certamente comemoram o golo tempos depois de uma maioria já o ter festejado.

Por muito que a tecnologia tenha evoluído, a rádio continua a ser a melhor forma de, mais cedo, saber o que acontece naquele campo onde estão todas as atenções.

VIVA PORTUGAL! SEMPRE.

Manuel Pereira de Sousa, 13.06.16

São dias de euforia. São dias em que o futebol aquece as almas. Vibram os portugueses pela sua Seleção. A Seleção é a esperança que nos vale – última para muitos.

Pela Seleção se decora tudo com as cores nacionais - até o rosto decoramos -; as nossas casas ganham vida; as nossas varandas tornam-se no orgulho nacional com as bandeiras hasteadas. Era bom que este fervor patriota fosse para além do futebol. Temos tantas vitórias, em tantas modalidades desportivas, em tantas áreas onde somos os melhores. Facilmente esquecemos, facilmente desvalorizamos ou ignoramos.

Era bom que o fervor patriota fosse maior. Hastear a bandeira de quatro em quatro anos quando todos os anos comemoramos o dia de Portugal ou a implantação da Republica é sinal que precisamos de lutar e defender mais a nossa nacionalidade e o nosso país.

Viva Portugal e a todos os que lutam para que este seja um país melhor.

EXPOSTOS AO ABALO CHINÊS

Manuel Pereira de Sousa, 06.09.15

O colapso da China é inevitável. Em tempos, achava que a aquele país estava a crescer e a expandir-se bem demais. Sempre desconfiei que vender aos chineses as joias da coroa ou os anéis, como lhe chamamos, seria um erro muito grande e com consequências futuras terríveis para a economia portuguesa. Confesso que nunca manifestei muito esta minha opinião, não fossem os senhores da economia acharem ridícula – já que de economia percebo aquilo que entra e sai da minha carteira e fruto da experiência da vida.

A crise das bolsas nestes últimos dias foi aquilo que considero ser o princípio da queda do gigante chinês. A presença deste gigante no mundo e a nossa dependência dele é tão grande, que as bolsas fecharam em baixa como em tempos longínquos da História da economia – fosse apenas a bolsa chinesa a ter a queda e não teríamos qualquer problema.

Sabemos que a China é um país populoso e com muita indústria que produz à escala mundial e de qualidade que muitos duvidam – eu duvido porque nada se compara à qualidade do que é português ou até mesmo de outros países da Europa. No Semanário Expresso, de 05-09-2015, fala das exportações portuguesas de calçado e valores de produção; para terem ideia o preço médio de um par de sapatos, made in Portugal, à saída de fábrica, custa 31,88 dólares; enquanto na China o mesmo valor permite a produção de 151 pares. Quanto à qualidade dos materiais e de fabrico nem valerá a pena falar. Um dia comprei estupidamente uns sapatos nos chineses por uns 15 Euros, que devem ter durado uma semana, pouco mais; mais tarde comprei uns portugueses por 30 Euros, que me duraram muito tempo, até não haver mais sola (a pele ficou como nova).

Certo é que o mundo económico age por conveniência. A China produz a baixo custo. Preocupação com os trabalhadores? Não. Preocupações ambientais? Garantidamente que não, a ver pela névoa permanente nas cidades. Qualidade de produção? Aquela que muitos já conhecem. Tudo isto pouco está a importar aos restantes países que recebem os produtos ou que vedem as suas empresas – o dinheiro é sempre mais importante, ainda que a exposição económica chinesa seja cada vez mais perigosa. O colapso chinês vai ser mais doloroso que o colapso Grego aqui na Europa – a começar por Portugal.

Os problemas que a China terá de enfrentar no futuro serão bem piores que os Europeus. Dependência energética, dos combustíveis fósseis, e pouco investimento na mesma escala em relação a energias renováveis. Dívida pública e privada nos 282% do PIB. Corrupção e sistema financeiro que deve ser menos regulado que na Europa. Problemas demográficos provocados pelo envelhecimento da população. Elevada migração das pessoas para os centros urbanos e falta de mão-de-obra no interior para produção de alimentos.

Apesar de a China ser um dos maiores impérios em termos económicos, isso não tem contribuído para a melhoria das condições de vida das populações na mesma medida que o crescimento. Acredito que, o sistema financeiro corrupto e sombra crie uma sustentabilidade económica “oca” que pode colapsar a qualquer momento. Os primeiros abalos já se verificaram com consequências nada boas. Mas, vamos esquecer isso e vender as joias da coroa portuguesa. Logo se vê o que fazer.

QUANDO POR MOMENTOS PORTUGAL É A FRANÇA

Manuel Pereira de Sousa, 23.08.15

Os nossos emigrantes já vão de partida, rumos aos países que os acolhem. Um ritual que se repete ano a ano e ao qual já nos habituamos. Quando pensávamos que o desenvolvimento do nosso país faria com que cada vez menos pessoas emigrassem, a emigração aumentou nos últimos anos a um ritmo que só temos memória nos anos 60 ou 70. Algo na sociedade portuguesa ou algo no país correu mal. Continuamos a ver os nossos familiares partirem. Somos cada vez mais cidadãos do mundo e cada vez menos neste país que perde os profissionais que formou com tanta dedicação – investimos para exportar cérebros, uma nova moda de exportação que o governo tem aplaudido e aconselhado.

Por um mês, Portugal torna-se na França. Ainda estes dias fui, por engano, ao centro comercial mais concorrido da cidade e: não ouvi falar português além dos locais onde entrei e fui atendido por um funcionário – se ouvi mais que isso não captei, a minha atenção estava focada nos que apelidamos de “avecs”. Eram inúmeros aqueles que ficavam nas filas dos restaurantes e outros que guardavam as mesas para a família inteira, a ponto de não existirem mais lugares disponíveis a quem queria comer um simples prato de comida e tinha o desespero de sair dali – por isso, disse que lá caí por engano, sem me lembrar na confusão que iria encontrar.
À parte da confusão fora do habitual deste mês, tenho bem a noção do quanto é importante para o país a vinda destes conterrâneos para a economia local e mesmo nacional. O comércio tem a oportunidade de ganhar um extra para o resto do ano.

Admirável é a forma como os emigrantes ainda gostam do seu país de origem. É certo que, em alguns, há extravagância excessiva e superioridade em relação a quem cá está e isso tira muitos portugueses fora do sério, sobretudo aqueles que têm de aguentar estas manias. Mas, não podemos generalizar. O amor pelo país vai muito para além do mês de Agosto e isso nota-se pelas inúmeras comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, onde se continua a praticar as mesmas tradições. Usam a bandeira portuguesa e outros símbolos representativos da nossa pátria e da nossa cultura – símbolos que, se calhar, pouco ligamos. A única coisa que tenho pena em muitos emigrantes é o desapego pela língua materna, como se fosse um parente pobre da cultura e da identidade e para alguns símbolo de superioridade – conhecem todos casos de emigrantes que entre si falam, muitas vezes, em português e quando dirigem a palavra aos residentes é em francês ou infelizmente desapegam-se totalmente da língua e falam entre si e com os restantes em francês. Mais uma vez, não se pode generalizar, apesar da recorrência dos casos.

Estão de partida e o país volta à sua normalidade. Um ritual que se repete. São portugueses a quem o país não deu oportunidade a todos de ter uma vida melhor ou simplesmente não lhes deu oportunidade de realizar a carreira para a qual estudaram. Vão para outras paragens na procura de maior retorno laboral e financeiro, num país que paga pouco, reconhece pouco o esforço destes, perdendo uma mão-de-obra cada vez mais qualificada e tão necessária para o crescimento da nossa economia. O futuro reserva um preço caro.

10 JUNHO - É DIA DE PORTUGAL. O PRESIDENTE JÁ DISCURSOU?

Manuel Pereira de Sousa, 10.06.15

É dia de Portugal. O Sr. Presidente já discursou? Questiono isso mesmo por saber que o Sr. Presidente discursa sempre nesta data em que se lembra Portugal, Camões e as Comunidades. Não ouvi o discurso. Acho que poucos o ouviram. Acho que poucos lhe darão ouvidos e o acharão interessante. A voz do nosso Presidente pelos vistos é assim - pouco acolhedora, pouco consensual, pouco voltada para os portugueses.

Sabem que é dia de Portugal? O que é Portugal nos dias de hoje? O que será de hoje em diante? Podemos entrar numa vertente muito filosófica e triste tal como o fado ou como o velho do restelo, que Camões falava na sua epopeia. Portugal parece ser, por vezes, um país indefinido, sem rumo e sem objetivos concretos para o futuro; sem uma imagem de marca que sirva de alavanca para a modernidade e para o crescimento. Vivemos acanhados por causa da crise e da culpa que os governantes nos depositaram pelo estado atual da economia e das finanças - somos sim culpados por quem elegemos. Creio que o nosso país está muito desaproveitado nos seus recursos materiais e humanos. Desaproveitado porque valoriza muito pouco o que tem dentro das suas fronteiras e valoriza ainda o que vem de fora. Mas, quem nos dirige pouco acredita nos portugueses e prefere aconselhar a emigrar. Se ainda vivemos na espera do D. Sebastião numa noite de nevoeiro estamos tramados porque nem ele parece querer alguma coisa de nós. Eu gostaria muito mais que viesse um Infante D. Henrique, que "agarrasse" no português e o voltasse para o futuro e lhe atribuísse uma obrigação de fazer o melhor pelo seu país na sua área. Faz falta a Portugal uma alternativa que oriente, com estratégia a longo prazo, para que o desenvolvimento e o caminho se construa geração após geração. Por vezes, ainda duvido que tenhamos soberania para conduzir o destino do país como desejamos e não ao sabor dos outros, que não sabem o que é Portugal e que conhecem tão pouco a realidade de cada português para emitirem uma qualquer opinião sobre o que deve ser feito.

Somos soberanos. Temos capacidades. Somos Portugal.

AMIGOS DE TIMOR EM NOME DA DIPLOMACIA. ATÉ QUANDO?

Manuel Pereira de Sousa, 08.11.14

Sempre em nome da diplomacia. É assim que Portugal reage às afrontas do Governo de Timor-Lorosae com a decisão de expulsar oito cidadãos portugueses com que havia um acordo de colaboração na área da justiça. Se não estou equivocado, foram seis juízes, um procurador e um polícia. O argumento de que estavam a lesar o Estado de Timor em muitos milhões de euros, por causa das decisões judiciais em favor das petrolíferas, é no mínimo uma explicação ridícula.

 

Vejamos: qual a relação de um agente da PSP com a decisão dos juízes nesses processos com as petrolíferas? Nenhuma. Qual a relação deste com os juízes para além da nacionalidade? Alguma. Os juízes estavam a investigar casos menos claros – corrupção –, que envolviam membros do Governo de Timor. José Brito, o oficial da PSP, foi para Timor em 2009, integrado numa missão da ONU e estava numa comissão anti-corrupção do governo. Agora dá para perceber a razão destas expulsões – todos investigavam a corrupção em membros do Governo. A reportagem do semanário “Expresso”, de 8 de Novembro, de 2014, fala exatamente do que se passa no Governo de Xanana Gusmão. Há casos de corrupção que envolvem o próprio Xanana. E há provas disso mesmo.

 

Recuo na história. Agosto e Setembro de 1999. Portugal foi o país que mais lutou e defendeu a independência de Timor. Estão na memória de muitos os acontecimentos que se sucederam ao anuncio do resultado das eleições. Ataques dos soldados indonésios à população. Fugas dos habitantes para as montanhas. Luta do Bispo de Díli, dentro e fora de Timor para defender as populações e a necessidade da comunidade internacional encontrar uma solução para o país. Foram os portugueses que mais se manifestaram – como nunca antes se tinha visto – pela defesa do país e posteriormente foram os que mais lutaram para a construção da nova democracia. Nesses tempos, Xanana Gusmão era o herói. Primeiro por estar na prisão e depois por lutar como guerrilheiro nas montanhas. Todos recordam a frase “Povo de Timor” dita no tom mais arrastado e demorado com incendiava os corações dos que defendiam um futuro diferente para o país. Anos se passaram e tudo mudou. Xanana - o herói - hoje é diferente. De democrata está a tornar-se o ditador. Está a tornar-se no que outros foram consigo. A falta de liberdade de comunicação já se sente no país com a limitação do acesso dos jornalistas à profissão. A incapacidade de separação de poderes entre a justiça e a política. A tendência para se deixar corromper. Hoje o grito “Povo de Timor” deixou de fazer sentido – há negócios bem mais importantes. É pena que assim seja.

 

Na reportagem do “Expresso”, que mencionei anteriormente, lê-se “o sistema está de tal maneira corrupto que tudo dá em desastre, as obras não têm qualidade, os projetos são maus, usam e abusam da emergência para fazer ajustes diretos”. Alegadamente existem muitas decisões ilegais.

 

Pior de tudo isto é a forma como o Portugal é tratado em toda esta questão. Há uma falsa diplomacia entre Timor e Portugal. Há desconforto na relação dos dois países. Mas, em nome da diplomacia e porque existem ainda 800 portugueses na região, tudo tem de ser gerido com “paninhos quentes”. Até quando? Temos necessidade de ser subservientes de Timor, depois de toda a ajuda que prestamos durantes estes anos? Em nome da diplomacia tudo é justificável?