ALGUÉM ME ARRANJA UM GABINETE?
Vi na televisão, mas li com mais detalhe no site do Observador, algo que pode indignar muitos dos portugueses e que moralmente é pouco aceite num país em crise e com enormes dificuldades de controlo da despesa pública. O Sr. Presidente da Republica vai para o Convento de Alcântara depois de deixar a Presidência da Republica, em 2016. Bem, dito assim até podem pensar que vai para um tempo de silêncio e clausura - isso já vive no Palácio de Belém (precisamos tanto que falasse e estivesse ao lado dos portugueses e só ouvimos silêncio). Na realidade trata-se do novo gabinete onde vai trabalhar (em quê?). Pelos vistos, as obras vão avançar. Até este ponto nada de anormal; porém, estamos perante obras que podem chegar a 475 mil euros e... e pago pelos contribuintes.
Sim, vamos todos pagar as obras e posteriormente o funcionamento do novo gabinete. Ainda que se trate de Património do Estado e que merece ser recuperado, a finalidade das obras é questionável. Eu fiquei espantado. Segundo a Presidência da República terá sido uma decisão pela opção mais funcional e económica entre as várias opções existentes - 475 mil Euros. A mais económica? Quando se trata de obras para um gabinete que ocupa 10% do Convento?
E baixar a despesa do Estado para aliviar a carga fiscal dos Portugueses?
Para além do gabinete, o Estado pagará a manutenção do mesmo, uma secretária, um assessor, um carro, um motorista e combustível. Coisa pouca? Parece que sim.
E baixar a despesa do Estado?
Trata-se de um costume dos Ex-Presidentes da Republica. Segundo o Observador, Jorge Sampaio, instalado na Casa do Regalo, teve obras de intervenção que ficaram por 750 mil Euros, há dez anos. Mário Soares encontra-se em instalações cedidas pela Câmara Municipal de Lisboa e recebe da Presidência um valor para pagamento de despesas que não é especificado. Ao que se sabe, Ramalho Eanes é o mais contido nas despesas, contenta-se com um andar arrendado.
Os três ex-Presidentes da Republica custam aos cofres do Estado um milhão de Euros. Sim. Um milhão de Euros. Onde estão as preocupações em conter a despesa pública?
Acredito que muita gente ao ler o artigo ou ao ouvir a notícia na televisão tenha sentido alguma revolta - comparando com as dificuldades que atravessa no seu dia-a-dia. Há muita preocupação com os gastos das pensões de reforma ou com os pagamentos dos salários. Porém, vejo pouca preocupação com estas despesas, que não beneficiam propriamente a recuperação do património, mas alimentam os caprichos - se assim não fosse, os locais não eram recuperados e ficariam ao abandono.
Será que quando terminar o meu mandato como deputado na Assembleia Municipal também terei direito a um gabinete para trabalhar ou será que a empresa para quem trabalho, há vários anos, me pode oferecer como presente um gabinete como reconhecimento pelo meu trabalho?
Alguém me arranja um gabinete? Mas, não um qualquer...