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BLOGUE DO MANEL

A vida tem muito para contar e partilhar com os demais. Esta é a minha rede social para partilhar histórias, momentos e pensamentos, a horas ou fora de horas, com e sem pés nem cabeça. Blogue de Manuel Pereira de Sousa

BLOGUE DO MANEL

A vida tem muito para contar e partilhar com os demais. Esta é a minha rede social para partilhar histórias, momentos e pensamentos, a horas ou fora de horas, com e sem pés nem cabeça. Blogue de Manuel Pereira de Sousa

AINDA NÃO FIZ A ÁRVORE DE NATAL! HÁ PROBLEMA?

Manuel Pereira de Sousa, 29.12.15

“Os pinheiros de Natal estão em saldo” mensagem enviada há pouco por um amigo que durante todo o mês de Dezembro me falou que deveria fazer uma árvore de Natal lá em casa. Dá um ar mais natalício à casa. Não faz sentido não a ter - diz o meu amigo -, para alguém que faz tudo por ter uma casa confortável e acolhedora. Estamos a 29 de Dezembro. O Natal já passou. Pergunto se ainda vou a tempo de fazer o pinheiro.
Hum!... creio que não. Fica para o próximo Natal. O que é contraditório porque podemos fazer a árvore de Natal em qualquer altura do ano. Então, diz-se por aí que o Natal é quando o Homem quer! Se assim é porque razão vamos ter de desmanchar o pinheiro após os Reis e guardar tudo lá no sótão? Porque razão fazem as pessoas a árvore de Natal a ponto de eu sentir alguma culpa, em não a fazer, com receio que o meu felino a desfaça nos seus tempos livres? Sim, às vezes sinto culpa de ter tão pouco espírito natalício lá em casa. O meu amigo fez questão de me ir lembrando ao longo do mês o assunto da árvore de Natal que eu consegui ir fugindo com sucesso. Chegamos a combinar ir comprar uma nessas lojas de decoração, mas quando chegava o momento de ir… havia sempre qualquer coisa para fazer e não dava para lá passar. Apesar de tudo, tive progressos natalícios este ano. Sim, isto vai com tempo. Tenho um presépio. Comprei um presépio e coloquei lá na sala num móvel, com destaque. Sim, dá um ar natalício à minha religiosidade. Até umas velas acendi para evidenciar o espírito de Natal. Dados os progressos, para o próximo Natal poderei ter árvore. Haja paciência para a enfeitar com bolas e luzinhas. Serei capaz. E se o meu felino a desmontar, deitar abaixo, já sei quem vou chamar para lá ir concertar: quem me tem massacrado o tempo todo com a árvore de Natal.

PODE O NATAL SER TODOS OS DIAS?

Manuel Pereira de Sousa, 27.12.14

Afinal o Natal já foi embora. Passou rápido. Tudo voltou ao normal. Muitos com um peso maior na consciência por terem comido e bebido em demasia numa festa em que o consumo é exagerado e que chega a ser fora do razoável. No Natal somos mais sensíveis. Olhamos com piedade para os outros, sobretudo para os que mais sofrem. Estamos mais dispostos a dar esmola. Estamos mais sensíveis para causas sociais. Alimentamos uma caridade sazonal. Deveria ser assim? Não. Se o Natal é sempre que o Homem quer, então deveria ser Natal todos os dias. Natal sem necessidade dos presentes materiais que nos fazem correr de loja em loja. Natal onde fossemos realmente solidários para com os outros, contribuindo dentro dos possíveis para as causas sociais. Dizem que há cada vez mais pessoas que detestam o Natal. É pena. Mas isto está longe de acabar com o Natal. Podem os que não gostam fazer algo de diferente para gostarem mais e para que os outros lhes sigam o exemplo na prática que deve ser esta festa. O Natal vive do sonho, desejo, esperança. Vamos sempre a tempo de fazer um Natal diferente.

AS CALORIAS DO NATAL

Manuel Pereira de Sousa, 25.12.14

O Natal é definitivamente cheio de calorias. Enquanto vejo gente a correr de um lado para o outros atrás das últimas compras, num trânsito infernal na cidade em hora de ponta permanente, decido tomar o meu café descansadamente numa pastelaria ao pé de casa - preferi não deixar as coisas para a última da hora. Estou sentado na pastelaria que hoje está virada do avesso. Metade daquele espaço e metade das mesas estão organizadas de forma diferente, onde são colocados dezenas de Bolos-rei e pão-de-ló. O ritmo de venda é acelerado porque a mesa está constantemente a ficar vazia, enquanto um funcionário tem como trabalho encher para ficar composta. 
Sem dúvida que esta é uma festa bastante calórica, sem esquecer as inúmeras iguarias que fazem parte da tradição. Depois desta época de festividades veremos inúmeras pessoas determinadas a fazer desporto, seja nos ginásios ou até ao ar livre para compensar as calorias ganhas nestes dias - o arrependimento, o sentido de culpa cresce nas pessoas depois de comer uma rabanada bem recheada ou aqueles mexidos bem açucarados. Ainda bem que o Natal é apenas uma vez por ano ou então seria um desastre.

NO NATAL LEMBRO-ME SEMPRE O TIO MANEL

Manuel Pereira de Sousa, 23.12.14

Já se passaram tantos, mas tantos anos e a memória vem sempre à cabeça nesta época natalícia. Lembro-me do Tio Manel. Era um homem que já não está entre nós há quase vinte anos. Conheci-o já com longa idade. Dele existe a memória de ter sempre um sorriso, que marca a sua cara com as fortes rugas de expressão e aquela boina preta, que comprara na Galiza - ainda naqueles tempos em que as fronteiras eram fechadas. O Tio Manel era o padrasto da minha mãe. Vivia sozinho numa casa pequena, muito velha. Era o fiel de uma empresa de hotéis lá na terra e, se bem me lembro, tinha como trabalho cuidar dos jardins, limpar o parque que existia numa das unidades. A sua casa dentro dos terrenos desses hotéis tenha um canteiro de plantas a toda a sua volta até à entrada que ele tão bem cuidava.
Eu e o meu irmão tínhamos por hábito em dia de consoada ir buscar o tio Manel para vir jantar a nossa casa - o tradicional bacalhau com batatas cozidas e couves. Saímos de casa ao fim da tarde e depressa chegávamos a sua casa que ficava a poucos metros da nossa; eram 15 minutos no nosso passo apressado de traquinas, mas que conseguíamos fazer em cinco minutos porque a meio do caminho saltávamos o muro e descíamos como verdadeiros alpinistas habituados a fazer aquele caminho de tantas as vezes que íamos a casa do Tio Manel. Tínhamos de ir cedo porque gostávamos de conversar com ele e, além disso, era necessário convencê-lo a vir jantar connosco porque tinha na ideia que não queria chatear ninguém. Não chateava. É certo que, às vezes, bebia um copito a mais, mas como eu gostava tanto dele, ficava todo contente em ter o Tio Manel lá em casa. Depois de o convencermos, já a noite tinha caído, lembro-me de que apagava a fogueirinha que acendia dentro de casa para se aquecer, vestia um casaco já muito antigo, de tecido grosso, que mais parecia fazenda, punha a boina na cabeça, apagava a luz e saíamos a caminho de casa. Claro que com a idade o caminho demorava um pouco, mas depressa chegávamos a casa e já o jantar se estava a fazer.
Hoje, a casa que era do tio Manel - depois de muitos anos ao abandono - foi recuperada pela empresa e tornou-se num bar, que cheguei a frequentar. Dos jardins dele nem sombra porque o terreno foi dividido para passar uma estrada.

Hoje o tio Manel não está entre nós, mas fica a memória de ter passado connosco muitas consoadas, num ritual anual que nunca me cansei que acontecesse. Mas em cada história com ele, fica a memória daquele sorriso de um velho de boina que gostava muito de nós.

TARDE DE SÁBADO. É NATAL.

Manuel Pereira de Sousa, 20.12.14

Já cheira a Natal. Já cheira há muito tempo. Mas hoje estamos mais próximos. Nota-se pelo movimento das ruas da cidade nesta tarde de sábado. A azáfama das famílias na corrida atrás das prendas de Natal é imensa. Quanto mais se caminha em direção ao centro maior é o movimento natalício. A cidade está cheia de luz. Está toda enfeitada com sinos, estrelas, luzes penduradas nas fachadas ou a atravessar de um lado ao outro das ruas em forma de arcos e cascatas. Há fumo no ar. São os vendedores de castanhas espalhados pelas praças, que abanam as brasas para assar as castanhas que vendem a quem passa nesta tarde tão fria. Todavia quente pela energia das pessoas. Há centenas ou mesmo milhares de pessoas que caminham lentamente colados em cada montra para ver os modelos e os que não hesitam em entrar para fazer mais uma compra. São às meias dúzias os sacos de papel que cada um carrega ao longo da Rua. Há ainda aqueles que contrariam o frio e a azáfama das compras, que vestem uns calções e decidem correr por entre as ruas da cidade. São muitos. Há alegria no ar. Há o barulho das pessoas que conversam, cumprimentam quem passa. Há qualquer coisa de especial que não vejo nos restantes dias do ano. Só por isso o Natal é fantástico. Para além das conversas há outro barulho. Não é barulho. São vozes de coro. Chegaram num instante e colocaram-se na escadaria da Praça e cantam músicas de Natal. São doces. Cantam com alma. Prendem quem passa. Arrancam o lado emotivo. Provocam silêncio. No final, há palmas. Atrás destes há muitos que não ouvem as músicas e fazem fila para um retrato ao pé da árvore de Natal. É linda. Toda branca. Só com luzes. Um pequena estrela dourada no cimo. Está digna de retirar um uau de quem passa. Um cenário destes nas ruas da minha cidade preenche qualquer ser humano. São horas de entrar num café. Ficar bem quente a ver o mesmo cenário que se passa lá fora. Para se sentir a sensação numa outra dimensão e anotar o cenário de uma tarde de sábado. São houras de ouvir poesia. São vésperas de Natal. Pena que o Natal não seja todos os dias.

A CARTA DE JOSÉ SÓCRATES AO PAI NATAL

Manuel Pereira de Sousa, 03.12.14

Querido Pai Natal,

Escrevo esta carta num dos momentos mais complicados da minha vida. Como deves saber já não vivo em Paris, na casa emprestada pelo meu amigo e de forma pacata. De um momento para o outro, sem ter vontade, mudei-me para Portugal ainda que forçado e agora estou a viver em clausura numa prisão, em Évora. Pensava que apesar de tudo a minha vida fosse sossegada, mas são inúmeras as pessoas que me vêm visitar, apesar de ficarem na entrada da prisão. A minha vida virou um desassossego, bem maior que o que levou Fernando Pessoa a escrever o seu livro e as suas passagens num pequeno quarto. Também vivo num pequeno quarto a que chamam de cela, onde apenas tenho a minha cama e uma cadeira onde me sento e medito com o passar das horas. Sabes, de vez em quando, tenho uns pensamentos filosóficos e peço ao guarda da prisão para me levar até à cabine para ligar para os jornais ou para a televisão para ditar umas coisas para serem públicas. Não me conformo estar resignado a um protagonismo sem uma presença física minha. Todo o mundo fala de mim, mas ninguém me viu realmente, apesar de umas imagens distorcidas que as câmaras captaram quando passei de carro da polícia ou lá no tribunal por trás das cortinas. Não me conformo em não poder dizer um adeus e falar com aqueles jornalistas que durante anos de primeiro-ministro destilei um certo ódio, de forma a espezinhar o seu trabalho.
Vivo tempos muito conturbados, que nem os meus mais próximos querem ligar nenhum, tirando o Mário Soares que tem saído em minha defesa, embora tenha caído no ridículo ao tentar sobrepor a minha honestidade sobre as decisões daquele juiz e daquele procurador a quem lhes dei umas boas instalações para trabalharem; e agora retribuem-me daquela maneira.
Eu sei que sou rico e que não devo pedir nenhuma prenda de Natal. Eu reconheço o descuido ao transferir dinheiro que era o suficiente para despoletar os alertas do sistema bancário, mas era eu, era eu e ninguém percebeu isso. Eu que sou um cliente da Caixa Geral de Depósitos e que sempre tive lá a minha humilde conta bancária e fazem-me isto. Assim tratam os clientes.
Querido Pai Natal, eu sei que estás ocupado, mas precisava de uma oferta tua; eu queria que me oferecesses um Magalhães para me ir entretendo enquanto estou aqui a viver na casa de Évora. Felizmente já tenho uma televisão que me vieram trazer e que tem sido a minha companhia. Os programas do Goucha são a minha ocupação da manhã. Já a Júlia Pinheiro tem sido difícil aguentar os seus berros. A Casa dos Segredos está a ser interessante acompanhar, pena eles não saberem que estou preso e convidavam-me para ir para lá fazer companhia e depois ver se eles conseguem descobrir o meu segredo – tenho tantos…
O Magalhães é tudo o que preciso neste momento. Talvez comece a escrever aqui umas memórias em vez de estar a ditar ao telefone ou termine o meu curso de filosofia.
Espero que compreendas a necessidade do meu pedido. Reconheço que não me tenho portado muito bem nos últimos tempos, mas prometo que estou a mudar.

Obrigado!

(texto satírico, qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência)

UMA GREVE QUE CHEIRA MAL

Manuel Pereira de Sousa, 29.12.13

A greve dos cantoneiros, em Lisboa, tem sido frequentemente falada nos noticiários à medida que se amontoam toneladas de lixo nas ruas da cidade. Ninguém gosta de ver a sua cidade cheia de lixo, ainda para mais quando se acumula durante dias e dias seguidos e nesta época em que os desperdícios são em quantidades absurdas (fruto do espírito consumista da época). Ninguém gosta e muitos devem criticar esta atitude dos cantoneiros sem que se pense nas razões que levaram a esta greve.

 

Aliás, seguindo o raciocínio de Nicolau Santos, no seu artigo do Expresso, de 28 de Dezembro, são poucos os que se lembram desta gente que trata de limpar o lixo da cidade, a porcaria que nós depositamos na rua. É um emprego digno como os demais, mas pouco desejado pelas pessoas, por ser sujo, desprezível, pouco reconhecido e pouco respeitado por quem quer que seja (há muita falta de cuidado na forma como se deposita e na forma como se embala o lixo que se vem pôr à rua).

É um emprego digno, mas indesejado por qualquer um e, por isso, talvez fique no esquecimento as condições laborais a que esta gente está sujeita e os salários ou direitos que lhes são retirados.
Por muito que António Costa tenha a maioria do eleitorado para implementar em Lisboa as medidas que deseja, como passar os cantoneiros para a alçada das Juntas de Freguesia, tal não significa que possa fazer tais mudanças sem ignorar a precariedade a que estes trabalhadores fiquem sujeitos.

Acredito que esta greve seja feita com razão de ser, mas temo que as pessoas no geral possam ficar insensíveis a ela só porque caminham pelas ruas cheias de lixo e de cheiro nauseabundo.

 

http://www.publico.pt/local/noticia/lisboa-aumenta-para-52-os-contentores-de-obras-para-deposito-de-lixo-1617869

 

PACIÊNCIA PARA OS JANTARES DE NATAL...

Manuel Pereira de Sousa, 19.12.13

Nesta época Natalícia são frequentes os jantares de convívio com os amigos, colegas de trabalho, pessoas da faculdade e outro grupo de amigos e por aí fora. Em grandes grupos ou mesmo pequenos, os restaurantes estão constantemente cheios – viva o negócio de uma economia em crise – e isso torna-se cansativo para quem tem de, por diversas razões, comparecer em todos os jantares de circunstância. Sim, são jantares de circunstância porque no resto do ano muitas destas pessoas pouco se ligam e pouco contactam.

Há alturas em que vejo nestes jantares uma oportunidade de partilhar um bom momento, mas noutras alturas acho que é meramente de costume e protocolo e que pouco muda as pessoas. Mas, estes jantares servem para mudar as pessoas? Talvez devam servir para que as pessoas relacionem com mais proximidade e se mantenham ou aumentem as ligações que a vida, pelas suas razões, separa.

Mas, chega a um ponto que não há paciência para tantos jantares e não há carteira que aguente sucessivas idas ao restaurante. Fosse Natal todos os meses e não teríamos crise que pegasse na economia.

É NATAL

Manuel Pereira de Sousa, 25.12.12

É Natal. A esta hora já algumas pessoas foram para a cama, outras ficam por aqui na sala a ver televisão e a navegar pela Internet - a partilhar com os demais a forma como está a viver o Natal. Neste momento, já comi o bacalhau com as couves, batata, cenoura e ovos, tudo acompanhado de um vinho tinto alentejano. Para o final, ficaram os doces como rabanadas aletria e mais já não cabe – fiquei satisfeito. Por fim, para terminar, um café.
Por entre conversas, partilhei fotografias de bons momentos deste ano, que agora termina, um zapping pela televisão e a escolha do “Tal Canal”, na RTP Memória.
Daqui a pouco será hora de deitar, mas antes ainda vou a tempo de saltar numa rabanada – estão uma delícia.

O Natal pode ser muito simples na forma como se comemora, mas é enriquecedor quando estamos no aconchego do lar, junto dos que nos são queridos. O Natal pode ser igual todos os anos, mas se em cada ano nos juntamos é sinal de que estamos vivos e juntos. Esse é o melhor presente que se pode dar e receber – que seja sempre assim.

Bom Natal a todos.

 

QUAL O SENTIDO DO TEU NATAL?

Manuel Pereira de Sousa, 22.12.12

Em 2008, publiquei num velho blogue da minha autoria um texto sobre o Natal. Decidi partilhar esse texto neste blogue porque parece que continua atual. Tem uma dose de moralismo, que até a mim me atinge porque pertenço à mesma sociedade cheia de vícios e a precisar de uma renovação.
 

«Dar, oferecer, termos que muito se usam neste período de festas.


Todos os anos é sempre a mesma coisa, a ponto de se tornar numa rotina anual, que provoca em nós uma azáfama e uma correria, causadora de um certo stress e mau estar - ter que pensar naquilo que temos para oferecer, a quem oferecer e se será a prenda ideal. 

 

Em tempo de crise, em que o dinheiro pouco chega para o dia-a-dia e muito menos para as prendas, a preocupação das ofertas mantém-se, sem que haja qualquer controlo sobre a situação. Se há pessoas que têm a doença consumista durante todo ano, nesta altura, a mesma doença atinge uma grande proporção, capaz de contagiar a sociedade na sua generalidade.

 

O Natal tornou-se algo assim - perdeu grande parte do seu espírito e passou a ser uma festa consumista, que a sociedade aproveita para dar e receber a tudo e a todos, quando durante o ano muitos dos amigos e das pessoas ficam esquecidas e são simplesmente ignoradas. 

 

É a febre do consumismo que altera o sentido de comemoração do Natal como festa Católica, mas ao mesmo tempo Universal, onde o verdadeiro sentido é o da fraternidade e comunhão entre todos. No entanto, muitas vezes, acho que no meio de tanta confraternização, haja uma certa hipocrisia de época e um certo trocar de sorrisos amarelos. Ainda existe o uso de usar a roupa nova para mostrar à família e aos amigos. Ainda existe o hábito de ir á missa do dia de Natal, quando durante todo o ano a importância pelo Deus Menino é mínima ou inexistente. 

Num mundo laico e racional, em que supostamente deveríamos viver, está a tornar-se num mundo de crença ocasional, em que Deus é a presença ocasional e utilizado para uma exibição social.


O verdadeiro espírito natalício, que deveria residir no coração e exteriorizado de forma simples e sincera, está transformar-se numa exteriorização extravagante e sem qualquer sentido interior. Aquilo em que esta época se torna é um vazio, onde o calor humano é cada vez mais raro.

 

Valerá a pena apregoar que o Natal é sempre que o Homem quiser, quando o sentido em que vivemos é muito diferente? Valerá a pena o envio massivo de mensagens escritas, para pessoas que durante o ano não recebem um simples olá por mensagem? Terá sentido mensagens formatas e plásticas, iguais para todos, quando na realidade cada um merece uma felicitação em particular com o verdadeiro sentido que une essas pessoas? 
Fará sentido apenas no Natal serem efectuadas campanhas de solidariedade, para dar a quem mais precisa coisas tão essenciais à dignidade humana, quando essas necessidades perduram todo o ano? Porque razão o sentido de dar apenas ganha expressão nesta época? Onde estamos nós durante o resto do ano? Estaremos no mesmo mundo? Veremos as mesmas pessoas?

 

Parece que não, parece que a solidariedade não é necessária e o mundo vive no seu melhor conforto - era bom que assim fosse -, mas a realidade do dia-a-dia é bem diferente e um tanto dolorosa. 
Era bom que o Natal voltasse a ter o sabor e o espírito do antigamente, onde muito mais que uma troca de presentes, fosse uma troca de sentimentos verdadeiros e sinceros e que permanecessem durante todo o ano. Era bom que deixasse de ser aquela rotina de compra de prendas, com que se entopem as nossas cidades, que na procura desesperada de alguma coisa que não sabemos o quê. 

Está nas nossas mãos um pequeno esforço que estale o verniz com que nos untamos, para parecermos bonitos nesta época - quando durante todo ano nos mostramos como pessoas feias.

 

O Natal vem de dentro para fora e não o contrário. Será que ainda vamos a tempo de contrariar esta tendência? 
Era bom que sim; mais vale tarde que nunca; mas há sempre uma incógnita quanto ao futuro.»