Momentos complicados se vivem no nosso país com o crescente número de pessoas descontentes com a política económica e social – estamos num período cada vez mais insustentável. A situação caótica não é apenas em Portugal, já o é, há muito tempo, na Grécia e agora com mais intensidade em Espanha – os recentes acontecimentos em Madrid não me deixam indiferente. Falta saber qual será o próximo país a entrar em colapso e a ver manifestações nas ruas, de um povo em estado de revolta e aflito com o rumo da vida.
Em Espanha as manifestações não são tão pacíficas quanto as que se realizaram em Portugal. As nossas manifestações foram em muitas cidades e, em qualquer uma delas, em número muito maior que as que se realizaram nos últimos dias em Madrid. Dizem que somos “hermanos”, mas de temperamentos muito diferentes. Felicito os portugueses que demonstraram descontentamento com uma maturidade política impressionante e capaz de “meter medo” porque não existiu nada que se pudesse apontar contra as manifestações, aponto de direitas e esquerdas se terem unido contra uma política macabra do Governo de Passos e Gaspar – fez-me lembrar José Saramago, na obra Ensaio Sobre a Lucidez. O Governo recuou (ainda que tente por outros estratagemas retirar do nosso bolso o que conquistamos com trabalho e esforço).
Em Espanha, a violência que a polícia desencadeou sobre os manifestantes, e o aumento progressivo desta, permitiu que esses manifestantes estejam a ser desacreditados perante o poder político e perante os restantes 47 milhões de habitantes. Isto não pode acontecer. A rua não pode ser condenada por uma luta de defesa dos cidadãos que estão a ser encurralados pelos políticos por meio de polícias. São inaceitáveis as declarações de Rajoy, descritas no EL PAÍS “Permítanme que haga aquí en Nueva York un reconocimiento a la mayoría de españoles que no se manifiestan, que no salen en las portadas de la prensa y que no abren los telediarios. No se les ven, pero están ahí, son la mayoría de los 47 millones de personas que viven en España. Esa inmensa mayoría está trabajando, el que puede, dando lo mejor de sí para lograr ese objetivo nacional que nos compete a todos, que es salir de esta crisis” – basicamente está a reconhecer os milhões de espanhóis que decidiram ficar em casa e não se manifestaram e que são essas que contribuem para a Espanha saia da crise. De facto são, da mesma forma que acredito que muitos milhares que estavam nas manifestações também estão a pagar a crise. Não acredito que um povo tão explosivo como os “nuestros hermanos” se resuma a milhares nas ruas, acredito que em pouco tempo serão em milhões, que se encontram no limite da austeridade.
A crise não é apenas em Portugal, Espanha, Grécia ou Irlanda, haverá muito mais défice escondido nas grandes economias como Itália, França e Alemanha. Esta é uma crise Europeia. Eu acredito que a Europa falhou porque se está a desviar dos seus objetivos iniciais de criação. Vejam os milhões que chegaram aos países como um maná e não resolveu os problemas profundos – mais que o dinheiro são os valores que estragam a Europa.
Reportagem Público: http://www.publico.pt/Mundo/governo-elogia-forma-proporcional-como-a-policia-actuou-em-madrid-1564607