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BLOGUE DO MANEL

A vida tem muito para contar e partilhar com os demais. Esta é a minha rede social para partilhar histórias, momentos e pensamentos, a horas ou fora de horas, com e sem pés nem cabeça. Blogue de Manuel Pereira de Sousa

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A vida tem muito para contar e partilhar com os demais. Esta é a minha rede social para partilhar histórias, momentos e pensamentos, a horas ou fora de horas, com e sem pés nem cabeça. Blogue de Manuel Pereira de Sousa

A TELESCOLA E O REGRESSO AO PASSADO

Manuel Pereira de Sousa, 10.04.20

Voltaremos a ter um ensino e uma educação as velocidades diferentes e voltaremos a criar a ideia nestas crianças e jovens que no mundo é tudo uma questão de sorte, onde as oportunidades são para os que estão mais adaptados e com a sorte de terem mais recursos. Chegados a esta ideia, vale a pena meditar na responsabilidade do Estado.

 

Quando, em junho de 2015, escrevi um texto neste blogue com o título “Quem Se Lembra da Telescola”, estava longe de imaginar que, algum dia, esta forma de ensino pudesse ser equacionada novamente, ainda para mais em 2020, com o avanço tecnológico em que vivemos. Uma forma de ensino tão distante das realidades de hoje, que julguei ser uma memória pela qual eu e muitos portugueses passaram - muitos outros nunca souberam o que era -, num tempo em que o país necessitava de expandir o acesso ao ensino para todos os portugueses, como forma de contrariar o atraso da educação causado por uma ditadura longa. Sem dúvida uma memória, que será utilizada novamente, em 2020, na RTP Memória (vejam só o caricato).
Claro que esta é uma medida provisória, que tenta a todo o custo recuperar e continuar o ano letivo que foi interrompido pelo encerramento de parte do país, motivado pela COVID-19, a pandemia da nova década. Tal como em outros tempos a telescola era a forma de chegar a massas da população sem acesso a outras formas de ensino, também hoje está a ser utilizada para chegar aos que não têm outras formas de aprendizagem; alunos que não têm recurso a um computador e a uma ligação à internet, para estar em permanente ligação com os seus professores e colegas. Chegados a este ponto percebemos que, em 2020, no século XXI, muitos portugueses não têm acesso aos meios tecnológicos que lhes permite estar ligados a qualquer parte do mundo, enquanto estão isolados em suas casas. Pensar que só os idosos, com pouca escolaridade e até de meios mais rurais é que não teriam acesso à tecnologia é desconhecer a realidade que ainda existe pelo nosso país e que, nestes tempos, se torna visível e surpreendente. Apesar de existir a noção desta realidade, acredito que não esteja contabilizada; acredito que não se sabe ao certo quantos terão como único recurso a nova telescola, além do mais, num número de anos escolares que é bem mais alargado em relação à velha telescola - no meu tempo, a telescola abrangia o quinto e sexto ano, agora, será transversal a todo o ensino básico (pelo que percebi das notícias).
Para os alunos e professores, o encerramento das escolas obrigou a uma readaptação da forma de ensino num tempo extraordinariamente curto (mas, acredito com sucesso), possibilitando a interação professor e aluno através de novas plataformas, que podem ter os seus benefícios. Porém, esta nova alteração de realidade momentânea tem as consequências, que obrigam a outras rotinas e a uma gestão familiar totalmente diferente da que conhecíamos até aqui. Se esta adaptação tem consequências na aprendizagem, maiores serão as consequências dos que não têm as mesmas ferramentas tecnológicas e que vão depender da televisão para avançar nos seus estudos. Voltaremos a ter um ensino e uma educação as velocidades diferentes e voltaremos a criar a ideia nestas crianças e jovens que no mundo é tudo uma questão de sorte, onde as oportunidades são para os que estão mais adaptados e com a sorte de terem mais recursos. Chegados a esta ideia, vale a pena meditar na responsabilidade do Estado; se desejamos um Estado mais social que tenta dar igualdade de oportunidades ou de um Estado que pensa em meras alternativas como forma de se desresponsabilizar da sorte de cada um. Longe de querer considerar que existem os coitadinhos e os sortudos, mas no que é básico à Humanidade, como é a Educação, o Estado tem de contribuir para o equilíbrio.
Se esta pandemia mudou o mundo, alterou também a forma como o ensino será de agora em diante; por essa razão, há que pensar seriamente numa forma tecnológica e universal para que a Educação seja um direito de todos por igual. A Telescola é um desenrasque e não uma solução produtiva - na minha ideia, que passei por esta experiência durante dois anos. Eu não tinha o mesmo nível de conhecimento que os meus colegas que andaram no liceu.

QUEM SE LEMBRA DA TELESCOLA?

Manuel Pereira de Sousa, 03.06.15

Hoje no trabalho, talvez a falar de idades (quem é mais velho que quem) veio à memória os tempos em que havia a Telescola. Alguém se lembra do que era a Telescola? Maioria dos jovens não sabe o que isso é – felizmente. Apesar de eu não ser assim tão velho, ainda me lembro deste tipo de ensino tão pouco pedagógico e incapaz dos alunos posteriormente se integrarem num sistema de aulas normal. Eu andei na telescola. Para quem não sabe, a Telescola era o ensino das disciplinas através de televisão. O meu quinto e sexto ano foi assim. Aprendi pela televisão. Sim, aprendi, Matemática, Ciências, Educação Física, Francês, Português, História e todas as outras disciplinas que fazem parte do ensino preparatório. Os manuais eram num papel muito fraco – ao meio do primeiro período já estavam todos esfarrapados. Vinham pelo correio e eram distribuídos pelos alunos após o pagamento no início ano letivo. Lembro-me que em algumas disciplinas era um manual por período, que chegavam á escola por correio, para depois nos serem entregados pelas professoras. Apesar das aulas serem por televisão tínhamos duas professoras – uma por cada grupo de disciplinas – que esclareciam algumas duvidas do que passava na televisão. Além disso, as professoras recebiam as cassetes, VHS, por correio, para colocarem no vídeo – era assim que assistíamos às aulas. Na televisão até o sumário passava. Alternativa era a professora que ditava o sumário segundo as regras que vinham no seus manuais distribuídas pelo Ministério da Educação. Os testes vinham também pelo correio, assim como a correção. Imaginem como era bonito assistir a educação física por televisão. Tínhamos um horário como os restantes meninos do liceus – nem sempre era cumprido e as aulas eram dadas ao sabor das necessidades de despachar as matérias. Era uma seca estar todo o tempo a ver as emissões, algumas delas era puxar a fita para a frente. Imaginem o que era comprar livro de educação física sem praticar, livro de música sem nunca termos aulas de música ou educação visual que nunca praticamos.

Por vezes, aparecia o inspetor lá na escola, a quem se batia continência e de quem escondíamos os livros debaixo das mesas por vergonha do terrível estado em que se encontravam. Este sistema de ensino era muito próprio de zonas em que as escolas secundárias e s+c não existiam ou ficavam distantes e normalmente as aulas eram nas escolas primárias. Ainda bem que anos mais tarde a telescola deixou de existir. Nem sabem o quanto isto prejudicou a integração no sétimo ano. As bases necessárias não existiam. As dificuldades em disciplinas como línguas, educação visual foram notáveis. Outros colegas tiveram dificuldades com a Matemática, ciências, etc. A organização da nova escola foi um choque. Não sabíamos ao certo o que se fazia quando a aula de História terminava e havia que mudar de sala para ir para Ciências; havia toques para entrar e sair, as aulas tinham tempos definidos; um professor por cada disciplina; ensino exclusivamente presencial, etc. Os horários faziam-se cumprir.

PASSAR OU REPROVAR?

Manuel Pereira de Sousa, 24.02.15

Qual a razão para a desistência no Ensino Secundário ser superior nos Açores em relação à Região Norte? Qual a realidade do Ensino no Norte para ter menos desistências em relação a qualquer outra região do país? As conclusões do Ministério da Educação são bem visíveis, mas era bom entender o sucesso de umas regiões para se replicar noutras regiões – se é possível que se possa replicar.

As notícias que circulam de que é necessário deixar de chumbar, sem a leitura ao pormenor das intenções do Ministério podem ser polémicas porque cria a ideia do facilitismo só para que as estatísticas sejam boas e, consequentemente, se contribua para a falta de qualificação dos jovens no mercado de trabalho. Sabemos bem que atualmente há défice de qualidade e exigência, a ver pela forma como os profissionais chegam ao mercado de trabalho com grandes lacunas na capacidade de comunicação, expressão oral, escrita e falta de sentido crítico – não posso exagerar ou generalizar porque existe também muita qualidade e excelentes profissionais, pois Portugal é um grande exportador de “cérebros” para o estrangeiro com fortes penalizações para a economia nacional.

Passar os alunos sem qualquer critério, só para que concluam os níveis de ensino, pode suar à lei do menor esforço tão desmotivante e desmoralizante para aqueles que se esforçam em ter boas notas. Porém, tudo em nome do incentivo e motivação dos que ficaram para trás e que não merecem fazer todas as disciplinas só porque chumbaram a duas ou três. Passar o aluno, ainda que necessite de acompanhamento no ano seguinte a essas disciplinas, pode não ser a solução de integração mais adequada porque não sabemos até que ponto as escolas poderão ter professores dedicados aos alunos que necessitam desse apoio – a contar com as regras economicistas que existem na educação e que obrigaria a contratação de mais professores.

A escola não pode desistir dos alunos só porque chumbam, mas isso não pode significar que estes passem com dificuldades – isso cria o aumento de dificuldades e a falta de bases em disciplinas que o aluno reprovou. Além disso, como pode um aluno ser bom numas disciplinas quando demonstra dificuldades? Como pode melhorar no ano seguinte se no ano anterior não existe nota que permita assegurar que as dificuldades sejam ultrapassadas?

Estarei errado?

CANUDOS HÁ MUITOS

Manuel Pereira de Sousa, 07.07.12

Miguel Relvas tem sido dos nomes mais falados neste últimos dias - televisão, jornais e rádios, redes sociais, blogosfera e tudo mais onde circulam as massas.  À "boca cheia" por todo país tem sido um verdadeiro falatório sobre a questão do curso superior que foi tirado num ano, quando o suposto seria em 3 anos.

Bem... Nem sei bem que pensar de tudo isto, desta onda mediática que se gerou sobre um Ministro que tem andado na "boca do mundo" de uns tempos a esta parte. Arrisco-me a concordar com Jerónimo de Sousa quando diz: "Canudos há muitos". De facto há. Este é o país de muita gente com canudo - uns por mérito, outros sabe-se lá qual o tipo de mérito. O que é certo, é que há aqueles que se safam independentemente da origem e forma como tiraram o seu curso e outros que infelizmente são obrigados a emigrar, se querem ter um trabalho a ser pago a valores dignos.

 

Em Portugal ainda se valoriza o titulo de Senhor Doutor ou Engenheiro, mais que o mérito e trabalho das pessoas. Acredito que essa mentalidade aos poucos esteja a alterar e as ideias; o trabalho e o esforço seja o que compensa no mundo profissional. Não quero com isto desvalorizar quem estuda e que todos tenham a oportunidade de tirarem o seu curso, o que não invalida que se possa evitar o excesso de graus titulares como única forma de mérito e de prestigio.

A questão do Ministro e da forma como tirou uma licenciatura, assim as suspeitas criadas em tempos em relação ao ex-Primeiro-Minsitro José Sócrates, não me chocam. O que mais me choca é a forma como somos governados e a necessidade se sairmos do buraco em que estamos metidos.