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BLOGUE DO MANEL

A vida tem muito para contar e partilhar com os demais. Esta é a minha rede social para partilhar histórias, momentos e pensamentos, a horas ou fora de horas, com e sem pés nem cabeça. Blogue de Manuel Pereira de Sousa

BLOGUE DO MANEL

A vida tem muito para contar e partilhar com os demais. Esta é a minha rede social para partilhar histórias, momentos e pensamentos, a horas ou fora de horas, com e sem pés nem cabeça. Blogue de Manuel Pereira de Sousa

A TELESCOLA E O REGRESSO AO PASSADO

Manuel Pereira de Sousa, 10.04.20

Voltaremos a ter um ensino e uma educação as velocidades diferentes e voltaremos a criar a ideia nestas crianças e jovens que no mundo é tudo uma questão de sorte, onde as oportunidades são para os que estão mais adaptados e com a sorte de terem mais recursos. Chegados a esta ideia, vale a pena meditar na responsabilidade do Estado.

 

Quando, em junho de 2015, escrevi um texto neste blogue com o título “Quem Se Lembra da Telescola”, estava longe de imaginar que, algum dia, esta forma de ensino pudesse ser equacionada novamente, ainda para mais em 2020, com o avanço tecnológico em que vivemos. Uma forma de ensino tão distante das realidades de hoje, que julguei ser uma memória pela qual eu e muitos portugueses passaram - muitos outros nunca souberam o que era -, num tempo em que o país necessitava de expandir o acesso ao ensino para todos os portugueses, como forma de contrariar o atraso da educação causado por uma ditadura longa. Sem dúvida uma memória, que será utilizada novamente, em 2020, na RTP Memória (vejam só o caricato).
Claro que esta é uma medida provisória, que tenta a todo o custo recuperar e continuar o ano letivo que foi interrompido pelo encerramento de parte do país, motivado pela COVID-19, a pandemia da nova década. Tal como em outros tempos a telescola era a forma de chegar a massas da população sem acesso a outras formas de ensino, também hoje está a ser utilizada para chegar aos que não têm outras formas de aprendizagem; alunos que não têm recurso a um computador e a uma ligação à internet, para estar em permanente ligação com os seus professores e colegas. Chegados a este ponto percebemos que, em 2020, no século XXI, muitos portugueses não têm acesso aos meios tecnológicos que lhes permite estar ligados a qualquer parte do mundo, enquanto estão isolados em suas casas. Pensar que só os idosos, com pouca escolaridade e até de meios mais rurais é que não teriam acesso à tecnologia é desconhecer a realidade que ainda existe pelo nosso país e que, nestes tempos, se torna visível e surpreendente. Apesar de existir a noção desta realidade, acredito que não esteja contabilizada; acredito que não se sabe ao certo quantos terão como único recurso a nova telescola, além do mais, num número de anos escolares que é bem mais alargado em relação à velha telescola - no meu tempo, a telescola abrangia o quinto e sexto ano, agora, será transversal a todo o ensino básico (pelo que percebi das notícias).
Para os alunos e professores, o encerramento das escolas obrigou a uma readaptação da forma de ensino num tempo extraordinariamente curto (mas, acredito com sucesso), possibilitando a interação professor e aluno através de novas plataformas, que podem ter os seus benefícios. Porém, esta nova alteração de realidade momentânea tem as consequências, que obrigam a outras rotinas e a uma gestão familiar totalmente diferente da que conhecíamos até aqui. Se esta adaptação tem consequências na aprendizagem, maiores serão as consequências dos que não têm as mesmas ferramentas tecnológicas e que vão depender da televisão para avançar nos seus estudos. Voltaremos a ter um ensino e uma educação as velocidades diferentes e voltaremos a criar a ideia nestas crianças e jovens que no mundo é tudo uma questão de sorte, onde as oportunidades são para os que estão mais adaptados e com a sorte de terem mais recursos. Chegados a esta ideia, vale a pena meditar na responsabilidade do Estado; se desejamos um Estado mais social que tenta dar igualdade de oportunidades ou de um Estado que pensa em meras alternativas como forma de se desresponsabilizar da sorte de cada um. Longe de querer considerar que existem os coitadinhos e os sortudos, mas no que é básico à Humanidade, como é a Educação, o Estado tem de contribuir para o equilíbrio.
Se esta pandemia mudou o mundo, alterou também a forma como o ensino será de agora em diante; por essa razão, há que pensar seriamente numa forma tecnológica e universal para que a Educação seja um direito de todos por igual. A Telescola é um desenrasque e não uma solução produtiva - na minha ideia, que passei por esta experiência durante dois anos. Eu não tinha o mesmo nível de conhecimento que os meus colegas que andaram no liceu.

VIR AO CIMO DA SERRA

Manuel Pereira de Sousa, 12.07.15

Imagem de Manuel Joaquim Sousa

Vir aqui ao cimo da serra

permite estar mais perto do céu.

Quanto mais subo

mais lhe posso tocar.

Mas, a meio do caminho

paro,

olho,

que bela paisagem daqui vejo.

Não quero mais subir,

Apenas quero aqui ficar.

Olhar o horizonte e sorrir

Porque me consegui encontrar.

Manuel Joaquim Sousa inspirado pela beleza do Gerês

 

- Se queres que te ponha de pé, bem que te fod... - Fala de uma mãe para o seu recém-nascido, quando este se tenta pôr em pé, enquanto a mãe está alapada numa pedra de uma lagoa na serra. Não foram as únicas expressões delicadas utilizadas para comunicar quer com o bebé, quer com os presentes - depois admiram-se que as crianças não têm modos de falar.
Pessoa que vai para a serra tem de caminhar e caminhar por meio de pedras, pois não é suposto que haja caminhos, quando falamos de zonas de proteção. Por não ser suposto, não percebo que pessoa sem qualquer noção do que é andar na serra diga coisas como: para quê andar tanto tempo para estar aqui? Ainda por cima deve estar cheio de bichos. Ou: "Ai que filhos da put..." porque os companheiros decidiram andar à descoberta das lagoas.

Assim continua em alto e bom som - que é impossível ignorar - a criticar e dizer mal de sua vida por ali estar. Além disso, o medo de estragar um telemóvel de 700 euros que ainda está a pagar às prestações é mais importante que desfrutar da natureza, da água, do ar puro, da beleza sublime que não temos quando queremos. São prioridades na vida, opções e valores que distinguem aqueles que procuram a natureza para relaxar ou os que lá andam por engano - só pode.

Há medo de cobras e bichos que andam livremente no seu espaço. Desejei tanto que aparecesse uma cobra pequenina ali em cima da pedra onde estavam estendidas ou então um inofensivo inseto para as assustar e, quem sabe, correr com elas dali.

Estava tão bem sozinho na minha toalha, no silêncio, a ler um livro até aparecer estas pessoas que não param de se queixar. Ainda aguentei uns minutos a escrever este desabafo que vos transmito; mas vesti-me, peguei na mochila e serra acima.

Enfim...

 

 

 

A EDUCAÇÃO VAI NUA!

Manuel Pereira de Sousa, 25.03.15

Esta história dos professores terem de fazer exame para avaliar competências é algo um tanto ou quanto ridícula. Que, tal como em empresas ou outras profissões, tenham de ser avaliados até concordo - como forma de validar as suas competências e capacidades para ensinar os alunos. A avaliação tem mais lógica se realizada no ambiente diário de trabalho e não num mero exame. O que conclui o Ministério de Educação com os resultados? Nada de útil para a qualidade do ensino e educação dos jovens.
Os exames que são realizados enquanto um professor tira o seu curso ou o seu mestrado parecem-me suficientes para sabermos que capacidades um professor tem. Um exame quando este está no mercado de trabalho a exercer a sua função? Duvido desta prática e dos benefício para a Educação. Além disso, fico sem perceber os critérios por apenas realizarem exames os professores contratados. Que diferenças em relação aos restantes colegas?

Para completar o ridículo a que o Ministério da Educação se tem tornado nos últimos tempos - com atropelos atrás de atropelos - havia na zona do Porto uma série de escolas em que o número de professores para assistir à prova era superior ao números de professores sujeitos a exame - 33 professores para vigiar e 6 a realizar prova. Esta situação aconteceu em 9 escolas. Ridículo, absurdo - faltam adjetivos para definir esta peripécia a que este ministro está a condenar o estado da educação do país. Depois esperam que os docentes tenham condições desempenhar o seu papel e os alunos e pais acreditem num ensino de qualidade e de futuro - que belo exemplo dá o ministério aos mais novos.

 

Ficamos à espera das próximas peripécias.

PASSAR OU REPROVAR?

Manuel Pereira de Sousa, 24.02.15

Qual a razão para a desistência no Ensino Secundário ser superior nos Açores em relação à Região Norte? Qual a realidade do Ensino no Norte para ter menos desistências em relação a qualquer outra região do país? As conclusões do Ministério da Educação são bem visíveis, mas era bom entender o sucesso de umas regiões para se replicar noutras regiões – se é possível que se possa replicar.

As notícias que circulam de que é necessário deixar de chumbar, sem a leitura ao pormenor das intenções do Ministério podem ser polémicas porque cria a ideia do facilitismo só para que as estatísticas sejam boas e, consequentemente, se contribua para a falta de qualificação dos jovens no mercado de trabalho. Sabemos bem que atualmente há défice de qualidade e exigência, a ver pela forma como os profissionais chegam ao mercado de trabalho com grandes lacunas na capacidade de comunicação, expressão oral, escrita e falta de sentido crítico – não posso exagerar ou generalizar porque existe também muita qualidade e excelentes profissionais, pois Portugal é um grande exportador de “cérebros” para o estrangeiro com fortes penalizações para a economia nacional.

Passar os alunos sem qualquer critério, só para que concluam os níveis de ensino, pode suar à lei do menor esforço tão desmotivante e desmoralizante para aqueles que se esforçam em ter boas notas. Porém, tudo em nome do incentivo e motivação dos que ficaram para trás e que não merecem fazer todas as disciplinas só porque chumbaram a duas ou três. Passar o aluno, ainda que necessite de acompanhamento no ano seguinte a essas disciplinas, pode não ser a solução de integração mais adequada porque não sabemos até que ponto as escolas poderão ter professores dedicados aos alunos que necessitam desse apoio – a contar com as regras economicistas que existem na educação e que obrigaria a contratação de mais professores.

A escola não pode desistir dos alunos só porque chumbam, mas isso não pode significar que estes passem com dificuldades – isso cria o aumento de dificuldades e a falta de bases em disciplinas que o aluno reprovou. Além disso, como pode um aluno ser bom numas disciplinas quando demonstra dificuldades? Como pode melhorar no ano seguinte se no ano anterior não existe nota que permita assegurar que as dificuldades sejam ultrapassadas?

Estarei errado?

PRAXE – UM MÉTODO ESTRANHO DE INTEGRAÇÃO II

Manuel Pereira de Sousa, 03.02.14

Os acontecimentos na praia do Meco continuam a dar que falar, no momento em que decorrem as investigações ao sucedido, pois muito há por esclarecer – uma série de peças separadas que deixam no ar o mistério daquela noite. Praxe? - falta esclarecer, embora tudo indique que sim. Acidente ou homicídio por negligência? – há uma testemunha que ainda não foi ouvida e que poderá ser a peça central de tudo.

Este terrível acontecimento que vitimou seis jovens trouxe para as primeiras páginas um assunto delicado e que já abordado há vários anos, embora desta vez com maior importância e impacto: as praxes.

Diz o dicionário Priberam, que praxe significa: uso estabelecido; sistema ou conjunto de formalidades ou normas de conduta; o mesmo que praxe académica (Conjunto de regras e costumes que governam as relações académicas numa universidade, baseado numa relação hierárquica).
No sentido prático do termo, praxe entende ser um método de integração para os recém-chegados ao ensino superior, baseado em práticas que são decididas pelo conselho de praxe – práticas duvidosas e altamente deploráveis. Nas diversas cidades onde existem faculdades estamos acostumados a ver os rituais de praxes com uma série de alunos a desfilar, em pijama ou com outros trajes, pintados, em altos cânticos ao seu curso ou cânticos em que se humilham. Mas, as praxes vão muito para além disso, existem atividades que nem sempre são visíveis ao público e que são do mais exagerado e sub-humano que existe; as recentes imagens divulgadas nas televisões e os inúmeros testemunhos de caloiros praxados são prova de que as praxes ultrapassam qualquer limite do razoável – se é que existe algum limite razoável para a prática da praxe.

Existe limite para praxar? Existe boa e má praxe? Se pensarmos que o ato de praxar é nada mais nada menos que exercer poder sobre o outro, o recém-chegado, como forma de superioridade e desejo de vingança por também ter sofrido com a praxe, todas as praxes se tornam num ato mau e deplorável. Assim sendo, não entendo o que o sr. Ministro entende por punir as praxes “absurdas e atentatórias da dignidade Humana”, quando todas elas o são.

As praxes sempre existiram no meio académico e todos sabem bem o que nelas se pratica, embora as próprias faculdades pouco se preocuparam com o que acontecia – agora demonstram-se alarmadas como trancas à porta depois da casa arrombada. Por muito que se diga que a praxe pode ser recusada pelo caloiro, sabem muitos caloiros que isso lhes pode constituir uma penosa sanção no decorrer dos seus estudos – não passa pelo crivo da integração, passa a ser um excluído do meio. Sabemos muito bem que a maioria não é praxada de livre vontade porque receia a represália de se colocar contra os doutores – acredito pouco que exista quem deseje ser humilhado como se isso constituísse para si um ato de dignidade.
Proibir a prática das praxes pode ser considerado por muitos como um ato de repressão e antidemocrático, quando estas não são prática democrática – se fossem nem existiam.

Aquilo que se vê na rua é apenas a ponta de um iceberg, daquilo que acontece em locais menos públicos e fora do alcance dos olhares de todos. Os sucessivos relatórios acerca destas práticas são bem elucidativos do que realmente acontece, embora os órgãos responsáveis das Universidades se desresponsabilizem por algo que é difícil controlar e consideram para lá da faculdade, ainda que o nome das faculdades, dos cursos, assim como os trajes dos doutores sejam presença nas praxes.

Sabemos que será sempre difícil controlar estes jogos de poder com imagem de integração social, pois em qualquer organização, onde exista um poder instalado, podem existir abusos que são difíceis de condenar ou mesmo extinguir; não se compreende que em relação às praxes se seja tão tolerante a estes abusos como se fossem um mal menor e provocassem menos danos físicos e psicológicos – a comprovarem-se as teorias, o Meco é uma consequência grave que pode sempre repetir-se.



PRAXE – UM MÉTODO ESTRANHO DE INTEGRAÇÃO.

Manuel Pereira de Sousa, 27.01.14

Depois da tragédia que aconteceu na praia do Meco, para a qual ainda poucas explicações existem, volta-se a falar do tema praxes (não sei até que ponto o que aconteceu tem haver com praxes) – um tema que vem sempre ao de cima quando alguma coisa de grave acontece no meio académico, com origem nesse método de integração de novos estuantes.

Sim, método de integração dos estudantes no meio académico, é desta forma que se entende por praxar os estudantes a quem chamam de caloiros. Durante a maioria do primeiro ano de universidade, os caloiros são sujeitos às mais diversas provas, que são as diversões dos senhores doutores de comissão de praxe - que na maioria dos casos e salvo raras exceções, são os desejos de autoridade sem qualquer respeito pela dignidade dos estudantes.

Posso ser um ignorante por pensar desta forma acerca deste método de integração, quando eu nunca fui estudante universitário e, por já ter alguma idade, acho que não são brincadeiras, mas meras criancices, onde não vejo qualquer beneficio de integração.

Sei que quem não deseja ser praxado pode negar-se a tal, mas corre o risco de rejeição por parte dos colegas – pois se assim não fosse, ninguém ou quase ninguém queria ser praxado.

Por muito que defendam a benevolência das praxes e me tentem convencer dos seus benefícios e desmistificar que não é nada do que se fala para aí, a história de casos desastrosos e com final triste é a prova de que são um erro e reforçam as caricaturas e o estereótipo que existe desde de sempre, a ponto de derem proibidas nos tempos ainda antes da primeira republica.

Apesar da discussão que se está a gerar nos dias que correm e da preocupação do Sr. Ministro da Educação, creio que acabará por se esfumar o assunto até que novos casos sejam noticiados e haja mais motivo para se discutir.

O CESSAR-FOGO NA EDUCAÇÃO

Manuel Pereira de Sousa, 26.06.13

A guerrilha entre Sindicatos de Professores e o Ministério da Educação terminou – uma cedência de parte a parte está na origem do cessar-fogo.
Para quem está, de fora, a assistir a esta guerrilha, como eu, nem sempre compreende o que gerou a mudança de posições em ambas as partes – para mim tudo é muito vago e incógnito. A sensação com que fico, e muitos devem também sentir o mesmo, é que tudo ficará na mesma e que a greve às avaliações foi apenas por causa do alargamento de horário para as quarenta horas semanais – eu acredito que existam mais razões que não foram bem explicadas.

Mas, um bom professor, há muitos felizmente, já trabalham mais de quarenta horas semanais ou estou errado? Talvez poucos pensam no muito trabalho que existe para além da sala de aula (os pais são prova disso, quando vão à escola saber como estão os seus filhos. Não podemos generalizar a meia dúzia de faltosos e sem vocação para ensino ao resto da classe. É importante clarificar todos os reais motivos que geraram esta guerra perfeitamente desnecessária se o consenso chegasse mais cedo.


Anteriormente escrevi: Na pele de um aluno e de um professor


http://www.publico.pt/sociedade/noticia/crato-frisa-que-assumiu-ha-muito-tempo-os-compromissos-que-so-hoje-foram-aceites-pelos-sindicatos-1598377 

NA PELE DE UM ALUNO E DE UM PROFESSOR...

Manuel Pereira de Sousa, 18.06.13

Vejo as notícias do dia, já um pouco tarde, e não posso ficar indiferente à greve dos professores; greve que provocou uma certa confusão na realização de exames nacionais – as imagens que nos chegam do liceu Sá Miranda, em Braga, é um exemplo do caos do dia. A escola pública teve um dia negro, o único com uma visibilidade mediática, já que a greve às avaliações tem muitos dias – e o atraso nas avaliações poderá ter mais influência e talvez seja mais prejudicial que uma greve que coincide com um exame nacional.

O decorrer dos acontecimentos, que continuará com novos capítulos nos próximos dias, deixa grande parte dos portugueses perplexos e a questionarem-se sobre os motivos dos professores e se realmente justificam uma luta tão cerrada ao Ministério da Educação.

Se fosse um aluno que teria o exame hoje, como me sentiria perante a incerteza da realização do mesmo? Depois de vários dias de estudo a anulação do exame poderia ser frustrante, para além da ansiedade que se vai criando com o aproximar da hora e da incerteza – mas, o exame poderá sempre ser realizado numa outra altura, já que a matéria estaria estudada. Porém, existe um imbróglio por resolver, uns alunos fizeram exame outros não tiveram essa possibilidade, como se vai fazer agora? Os que vão fazer posteriormente sairão beneficiados ou prejudicados? O grau de dificuldade será o mesmo? Até que ponto os que conseguiram fazer o exame hoje terão resultados reais, depois de tanta pressão e confusão no exterior de algumas das escolas, a ponto de ficarem desconcentrados? Que validade tem os exames quando alguns foram alegadamente entregues fora de horas e outros alegadamente vigiados por pessoas sem a formação necessária para o correcto preenchimento e distribuição das versões? Em que condições foram realizados os exames, quando existem relatos de que alguns foram realizados em cantinas das escolas? Que consequências para esses alunos que não têm culpa destas condições menos adequadas?
São motivos que devem deixar revolta em muitos estudantes, tenham ou não realizado os exames – o princípio da igualdade não existiu.

Confesso que tenho alguma dificuldade em perceber muito do que está em questão, assim como, perceber se estas reivindicações têm reais fundamentos para uma greve e uma contestação tão elevada – atirar a pedra seria muito simples sem ter a sensibilidade de perceber como vivem os professores; ou seja, se estivesse num lugar de professor compreenderia e teria uma visão muito diferente em relação aos motivos que movem estas pessoas. Sei que as suas vidas têm limitações; não é fácil estar numa carreira em que nem sempre têm horário completo, estão em constante mobilidade, sem possibilidade de terem uma família estável e uma vida segura, têm de trabalhar para além das aulas (aulas para preparar, testes para fazer e corrigir, avaliações para lançar), têm um número de alunos por turma cada vez maior (o que não permite um acompanhamento com qualidade a todos, numa escola pública igual para todos).

Temo que para o Ministério da Educação tudo seja uma questão de números e não uma questão de qualidade de ensino e igualdade com os alunos que são os principais lesados desta guerra. Poderia ter gerido esta situação de forma diferente? Talvez.

O ensino é o futuro do país e a qualidade e estabilidade do mesmo terá reflexos na formação dos alunos e na sua qualidade como pessoas e profissionais. 

A LITERATURA QUE REPUGNA OS JOVENS. CULPA DE QUEM?

Manuel Pereira de Sousa, 19.06.12

No blogue Escada Acima, a Joana publica um texto "Por Favô" em jeito de desabafo que no exame de hoje não lhe apareçam os Lusíadas ou a Mensagem no exame de Português. Os mais velhos dirão: que insensibilidade para com obras de grande renome e que são representativas da cultura literária portuguesa. Eu nos meus tempos de estudante também era insensível a este tipo de obras. Com o tempo fui-lhes dando valor e com o tempo fui desfolhando e lendo cada estrofe com uma delícia que não sentia antes. Hoje valorizo mais que nos meus tempos de estudante.


A Joana amavelmente me respondeu: "Na verdade, Manuel, dou muito valor a estes autores. Sei bem o valor que têm e a grandiosidade das suas obras. Hoje, infelizmente, não os há assim. A única razão pela qual eu não "queria" que saíssem em exame era o facto de achar que a interpretação é muito subjectiva. Aliás, aconteceu-me fazer o exame e, ao ver os critérios, reparar que fiz uma interpretação completamente antagónica à sugerida como correcta."

 

Perante isto respondi que compreendo bem que nem sempre as nossas interpretações são bem vistas pelos outros - os corretores das provas que se cingem à folha de correção. O nosso ensino e mesmo a leitura de bons clássicos peca por este ponto: somos obrigados a seguir um padrão de interpretação e de leitura e nada podemos fugir deste (se fugirmos estaremos condenados a errar ou a ser considerados como "hereges" da literatura). 
Por isto que em Portugal se lê muito pouco e não sei se lerá cada menos. Pensar que é fruto da crise é verdade, mas mais que da crise económica é da crise de valores. Ninguém gosta de ler contra vontade e numa sociedade livre deveria ser permitido pensar e expressar livremente o que se sente quando se lê uma obra ou um poema e esquecer o que é determinado pelos critérios estatais que determinam o pensamento - isso é querer que se tenha um pensamento único contrário às leis democráticas conquistadas com a revolução dos cravos.

Em conclusão: evito condenar apenas os jovens pela falta de leitura ou pelo desapego à cultura literária; critico muito mais quem constrói os programas estáticos, que nem sempre olham para a variedade da nossa literatura, mesmo da contemporânea.

É natural que o que aqui escrevo pode ser uma profunda heresia para quem trabalha no ensino, mas é a opinião de quem já passou pela fase que os estudantes passam neste momento (medo de um exame por poderem interpretar de forma diferente ao instituído).
Nunca fui um bom exemplo a português e por essa razão, poderei não ser um bom exemplo ao expressar esta opinião, porém é o que penso. Estarei errado?

(já que estamos a falar de Português, agora mesmo reparei que o meu word foi actualizado e a correcção está a ser feita de acordo com o novo acordo ortográfico. Aqui no Sapo ainda se mantém a fórmula antiga. Tenho mesmo de pensar o que vou fazer no futuro). 

EIS A QUESTÃO: SERÃO OS NOSSOS UNIVERSITÁRIOS IGNORANTES

Manuel Pereira de Sousa, 17.11.11

Fonte do vídeo: Youtube.com

O vídeo publicado na Revista Sábado, esta semana, sobre a ignorância dos universitários portugueses provoca grande polémica e tornou-se motivo de chacota por muita gente nas redes sociais como no facebook – não deve haver pessoa que não tenha um amigo que tenha publicado no mural este polémico vídeo.

Um dos entrevistados contra-ataca e ameaça recorrer aos tribunais, por considerar que o seu bom nome foi posto em causa e porque os jornalistas apenas se preocuparam em passar as respostas que este deu erradamante e ignorar as que tinha acertado. É errado que se ponha em causa a inteligência e a cultura de uma pessoa pelo facto de ter errado a uma pergunta, numa área em que o entrevistado se sinta pouco à vontade? Mas, as respostas que ouvimos, na maioria dos casos, são muito aberrantes e incomodativas para grande parte das pessoas que procuram estar actualizadas e dentro dos parâmetros culturais estabelecidos – existe algum parâmetro (?).

No entanto, fica uma grande questão: até onde se pode medir e como se pode testar a cultura geral de um indivíduo apenas com a avaliação de uma única resposta - porque é apenas uma resposta que ouvimos em cada um dos entrevistados? Seria mais justo que os jornalistas, desta resportagem, publicassem todas as respostas de todos os entrevistados para cada leitor avaliar o grau de cultura de cada um? Terá sido esta reportagem redutora – tendo em conta que cria uma imagem generalizada dos estudantes universitários, que pode não ser a real?

Este vídeo deixa-me a pensar, e muito, sobre o estado da cultura do nosso país com estas respostas tão constrangedoras a que assistimos.
Não quero aqui julgar ninguém, mas isto dá que pensar – concerteza que dá.


 


Manuel de Sousa
manuelsous@sapo.pt