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BLOGUE DO MANEL

A vida tem muito para contar e partilhar com os demais. Esta é a minha rede social para partilhar histórias, momentos e pensamentos, a horas ou fora de horas, com e sem pés nem cabeça. Blogue de Manuel Pereira de Sousa

BLOGUE DO MANEL

A vida tem muito para contar e partilhar com os demais. Esta é a minha rede social para partilhar histórias, momentos e pensamentos, a horas ou fora de horas, com e sem pés nem cabeça. Blogue de Manuel Pereira de Sousa

HÁ UM DIABO DENTRO DE NÓS!

Manuel Pereira de Sousa, 06.04.15

"O problema não é sentir o mal, o problema é fingir que somos imunes a esse mal." Esta é uma frase de um excelente artigo de Henrique Raposo, no Semanário Expresso, de 3 de Abril de 2015. Tal artigo na sequência do terrível desastre de avião, em que Andreas Lubitz terá arrastado consigo para a morte 149 pessoas.

Há um diabo dentro de todos nós. No meio do horror a nossa mente pensa em muito mais que aquilo que falamos publicamente, mesmo com os que nos são mais próximos. Há pureza nas palavras, mas nunca saberemos se por de trás das mesmas a pureza do que pensamos e sentimos será a mesma. As palavras têm moralismo; o pensamento bruto não será assim tão moralista. Todos teremos opinião sobre o que se passou. Todos estamos prontos a condenar o que aconteceu porque nos sentimos nesse direito e porque vivemos emoções na flor da pele à medida que chegam dados novos sobre o que terá acontecido. Creio que o mal do Homem está aí: Condenar com rapidez as ações do outro. Perguntar-me-ão: Mas que razão teria este piloto para realizar tal atrocidade? Não é de condenar? Batemos palmas aos atos suicidas? É de condenar, é de revoltar, mas ao mesmo tempo sem a moralidade com que, por vezes, o fazemos porque em todos nós existe um lado selvagem, irracional, que não conseguiremos dominar no momento em que a cabeça está quente. Num momento de cabeça quente nem o ser mais sensato conseguirá ter a garantia de que se mantém sereno. Podemos condenar o mal, não podemos ignorar que todos nós o carregamos. Somos o que somos por sermos domesticados por leis e códigos. Nisso, não somos mais que o comum dos animais - domesticamos, não sabemos qual o dia e a hora em que este se virará contra nós. Há um botão que liga aquilo que está adormecido. Agora lembro-me do filme "A Vida de Pi".

Henrique Raposo no seu artigo, do Expresso, conta uma passagem de criança que demonstra bem o que rejubila em nós quando algo acontece, os berros de uns são a satisfação de outros - daqueles que procuram a imagem mais dramática, daqueles que vêm o mal do vizinho, daqueles que acompanham tudo para destilar todo o moralismo adormecido. Henrique tem razão ao dizer que o suposto vídeo que existe sobre o que aconteceu vai ter milhões de visualizações na internet porque temos o lado macabro de ver, procurar sentir nem que seja para depois chorar, sentir dor ou continuar a destilar a força moral que temos. Não é por acaso que os crentes pedem perdão pelas ações e pensamentos.

Em tempo de Páscoa chego a pensar nesse moralismo podre que temos, que anda ao sabor das massas, do que se partilha instantaneamente desde os primórdios da nossa existência - não culpem só as redes sociais. Cristo era ouvido, apreciado por todos, falava bem, fazia milagres, mas na hora da condenação esses que o admiravam condenaram-no, pediram a sua morte. Os próprios discípulos negaram e mudaram a sua opinião acerca de Cristo e na hora voltaram as costas. Foi crucificado. Qual o motivo para isso? Nenhum. A quente temos um moralismo falso, que segue atrás da opinião corrente e que faz de nós o pior dos seres do mundo.

Henrique Raposo, na sua visão mostra que devemos pensar nisto. Somos bons a julgar os outros e a usar palavras bonitas que nem sempre são coerentes com o nosso pensamento. Por isso admiro aqueles humoristas negros, pelo menos não têm pudor em partilhar o que lhes vai na alma. Cortam-nos com a sua opinião, mas no fundo todos rimos por dentro da piada e admiramos a sua coragem.

Não neguem a existência do mal e convivam com ele com princípios que não prejudiquem o próximo.

PÁSCOA AINDA É O QUE ERA

Manuel Pereira de Sousa, 19.04.14

Já passaram dois mil anos daquela que é a história mais narrada, retratada em filme, em peças de teatro, em música, entre outra possíveis formas de expressão – falo da paixão e morte de Cristo.

Apesar dos tempos, contagiado por momentos em que a fé vacila, a morte de Cristo e a Ressurreição continua a ser um dogma de fé para muitos crentes, aqueles que acreditam que existe algo para além desta difícil vida terrena. A vida de Cristo continua ser contagiante, continua a ter seguidores e terá sempre porque este homem, independentemente da divindade, trouxe no seu tempo uma revolução filosófica e humanista que transcende a religião a que é sempre conotado – digo que Jesus foi para todos e não apenas para os tementes a Deus. A ler cada uma das suas parábolas sabemos bem que continuam a fazer sentido no nosso tempo e que ainda continuam a saciar aqueles que buscam algo mais que o superficial e efémero com que nos enchem a vida.

Haverão sítios em que a Páscoa pode passar despercebida, mas há outros onde é vivida com intensidade muito forte e mesmo contagiante. Vivo em Braga e confesso que admiro a Semana Santa de Braga. A forma como é preparada com todo o detalhe, desde a parte cultural à parte religiosa e todo o cerimonial dão uma importância digna que esta semana merece. A tradição de cada cerimónia, de cada procissão continua ano após ano; quando poderia pensar que tudo isto estava em desuso e que as gerações mais novas estão cada vez mais desligadas destas tradições, reparo que são elas os sustento humano destes acontecimentos e que são cada vez mais os jovens a comparecer nas cerimónias típicas da época.

A Páscoa é sem dúvida uma festa fantástica pelo que representa e pelo valor cultural e religioso que tem para muitos.

Uma Páscoa feliz!

CECÍLIA FAZ ARTE AO RESTAURAR IMAGEM ECCE HOMO, DO SEC XIX

Manuel Pereira de Sousa, 23.08.12
(Fonte de vídeo: www.sic.pt)

O conceito de arte está profundamente baralhado entre nós. Quanto mais evoluímos como seres pensantes mais baralham a arte e o que querem dela ou o que representa para todos nós.

Lá por termos acesso à arte de uma forma cada vez mais ampla, não significa que sejamos todos apreciadores de arte e críticos conceituados, a ponto de menosprezar o esforço de muitos pela criatividade.

A Cecília, de 80 anos, cidadã Espanhola, é vítima daqueles que criticam a arte de forma pouco construtiva. Teve a humilde ideia de artista plástica de restaurar uma imagem de Cristo, há muito degradada pelo passar do tempo - uma forma de recuperar uma obra de Elias Garcia Martínez. Pelos vistos a senhora teve de sair a meio do restauro para ir buscar o filho e quando voltou a “tenda já estava armada” e não pode terminar o seu trabalho.  Como é possível que esta senhora não tenha terminado o restauro que a pintura estava a precisar? Como é possível tão grande polémica em torno de alguém que já pinta desde os 5 anos, que já fez muitas exposições e vendeu muitos quadros?

São questões que eu, defensor da arte que rompe com as tradições e as leis conservadoras (até fiquei admirado com esta designação), não consigo responder. Lá por Cecília não ter a mesma projeção que Picasso ou até que o criador original Elias Garcia Martínez, não significa que a sua arte seja menor.

Quando o Picasso fez os seus traços e rabiscos o mundo da arte e dos críticos abriram a boca de espanto; quando Dali pintou aqueles abstratos exagerados (frutos da sua loucura) a admiração e a tentativa de encontrar um significado é um trabalho filosófico; Leonardo D Vinci pintou a pobre Mona Lisa e agora o Louvre é motivo para milhões de visitantes; quando Paula Rego expõe as suas obras de mulheres grosseiras, eis que se torna na crítica e exposição das realidades sociais; quando a grande Cecília restaura uma imagem de Cristo com uma arte mais moderna, abrem-se as bocas da crítica como se ela fosse uma herege.

O que dirá o Cristo no meio de tudo isto?
Quem nunca pintou mal que atire a primeira pedra.

Vou tentar entrevistar Cristo para ver o que pensa sobre tudo isto.


(Escrito de forma irónica e de acordo com o novo acordo ortográfico)