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BLOGUE DO MANEL

A vida tem muito para contar e partilhar com os demais. Esta é a minha rede social para partilhar histórias, momentos e pensamentos, a horas ou fora de horas, com e sem pés nem cabeça. Blogue de Manuel Pereira de Sousa

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A vida tem muito para contar e partilhar com os demais. Esta é a minha rede social para partilhar histórias, momentos e pensamentos, a horas ou fora de horas, com e sem pés nem cabeça. Blogue de Manuel Pereira de Sousa

UMA VACINA PARA TI, UMA PARA MIM, OUTRA PARA QUEM APANHAR

Manuel Pereira de Sousa, 06.02.21

Bem, já deu para perceber que isto da vacinação em Portugal dá argumentos para todos os lados; uns dizem que está cheio de casos dos que se metem na frente da fila; outros dizem que estamos a vacinar bem e com percentagens acima da média da União Europeia.

Português que sou, embarco agora na primeira teoria (os que passam à frente) porque é sempre mais interessante que dizer que está a correr bem.

Vivemos em Portugal, sabemos bem a cultura que temos, sabemos, há tempo suficiente, de que genes fomos constituídos, para acharmos tão estranho que uns engraçadinhos, por se acharem, mais que os outros, tenham o seu nome na lista para serem vacinados primeiro que os prioritários.

A questão de ser prioritário é sempre relativa, o que é prioritário para mim não é para o Zé, muito menos para a Maria e assim por diante.

Quem elaborou o plano esqueceu redondamente esta particularidade portuguesa de estudar a regra e andar por entre suas lacunas para atingir o seu fim – ser vacinado. Isto é como pensar no confinamento – andamos a estudar as exceções para depois sair de casa para passear, ir para uma festa, estarmos em sociedade de qualquer forma. Criar regras que limitem é difícil; todos temos uma formação em advocacia que faz parte do nosso instinto para perceber por onde escapar. Acompanhado de tudo isto, temos sempre uma capacidade moralista perante a sociedade, mas com aquela dose de culpa na consciência. Afinal de contas só deve mesmo acontecer aos outros.

Em relação ao plano de vacinação eu, tal como a maioria dos portugueses, sou um especialista e acho que as regras estão mal. Esta estratégia de vacinação em massa está mal construída, quando na realidade há que vacinar duas vezes a população portuguesa.

Tenho duas possibilidades que poderiam contribuir para este processo ser de forma rápida e transparente, a bem da nossa saúde e da nossa economia. Por falar em economia, vamos envolver a economia local neste processo.

Espetar a agulha no braço demora pouco e tem pouco que se lhe diga. Por essa razão, já que somos um povo que adora ir aos supermercados porque é uma exceção ao confinamento e permite que se continue a ir em aglomerados familiares, a vacina podia ser administrada pelo operador de caixa no momento do pagamento. Ora ponha lá o ombro à mostra e espeta a agulha. No mês seguinte a outra toma. Para registo seriam os cartões de pontos e cupões. Além disso, juntar uns euros ou pontos em cartão ou mesmo um cupão para incentivar a segunda toma no mesmo estabelecimento comercial.

Se estivermos a pensar em apoiar o comércio local, também se pode convocar a rede de cafés e pastelarias do nosso país. Assim, cada vez que vamos buscar o pão ou tomar o café, no momento de pagar entregava-se o dinheiro e mostrava-se o ombro.

Considero estas formas mais igualitárias de vacinação.

Tendo em conta as poucas doses que chegam, as mesmas seriam distribuídas de forma silenciosa e aleatória nos cafés e supermercados para evitar os aglomerados como a promoção dos 50% do PD, no primeiro de maio de há anos, para evitar a cobertura noticiosa das televisões tipo CMtv, para evitar aquelas entrevistas ridículas às pessoas a perguntar como correu a toma da vacina.

A inexistência de regras seria a melhor regra porque assim, em vez de estarmos preocupados em descobrir qual a lacuna, ficamos bloqueados por não haver por onde “furar”.

 

Manuel Pereira de Sousa

A TELESCOLA E O REGRESSO AO PASSADO

Manuel Pereira de Sousa, 10.04.20

Voltaremos a ter um ensino e uma educação as velocidades diferentes e voltaremos a criar a ideia nestas crianças e jovens que no mundo é tudo uma questão de sorte, onde as oportunidades são para os que estão mais adaptados e com a sorte de terem mais recursos. Chegados a esta ideia, vale a pena meditar na responsabilidade do Estado.

 

Quando, em junho de 2015, escrevi um texto neste blogue com o título “Quem Se Lembra da Telescola”, estava longe de imaginar que, algum dia, esta forma de ensino pudesse ser equacionada novamente, ainda para mais em 2020, com o avanço tecnológico em que vivemos. Uma forma de ensino tão distante das realidades de hoje, que julguei ser uma memória pela qual eu e muitos portugueses passaram - muitos outros nunca souberam o que era -, num tempo em que o país necessitava de expandir o acesso ao ensino para todos os portugueses, como forma de contrariar o atraso da educação causado por uma ditadura longa. Sem dúvida uma memória, que será utilizada novamente, em 2020, na RTP Memória (vejam só o caricato).
Claro que esta é uma medida provisória, que tenta a todo o custo recuperar e continuar o ano letivo que foi interrompido pelo encerramento de parte do país, motivado pela COVID-19, a pandemia da nova década. Tal como em outros tempos a telescola era a forma de chegar a massas da população sem acesso a outras formas de ensino, também hoje está a ser utilizada para chegar aos que não têm outras formas de aprendizagem; alunos que não têm recurso a um computador e a uma ligação à internet, para estar em permanente ligação com os seus professores e colegas. Chegados a este ponto percebemos que, em 2020, no século XXI, muitos portugueses não têm acesso aos meios tecnológicos que lhes permite estar ligados a qualquer parte do mundo, enquanto estão isolados em suas casas. Pensar que só os idosos, com pouca escolaridade e até de meios mais rurais é que não teriam acesso à tecnologia é desconhecer a realidade que ainda existe pelo nosso país e que, nestes tempos, se torna visível e surpreendente. Apesar de existir a noção desta realidade, acredito que não esteja contabilizada; acredito que não se sabe ao certo quantos terão como único recurso a nova telescola, além do mais, num número de anos escolares que é bem mais alargado em relação à velha telescola - no meu tempo, a telescola abrangia o quinto e sexto ano, agora, será transversal a todo o ensino básico (pelo que percebi das notícias).
Para os alunos e professores, o encerramento das escolas obrigou a uma readaptação da forma de ensino num tempo extraordinariamente curto (mas, acredito com sucesso), possibilitando a interação professor e aluno através de novas plataformas, que podem ter os seus benefícios. Porém, esta nova alteração de realidade momentânea tem as consequências, que obrigam a outras rotinas e a uma gestão familiar totalmente diferente da que conhecíamos até aqui. Se esta adaptação tem consequências na aprendizagem, maiores serão as consequências dos que não têm as mesmas ferramentas tecnológicas e que vão depender da televisão para avançar nos seus estudos. Voltaremos a ter um ensino e uma educação as velocidades diferentes e voltaremos a criar a ideia nestas crianças e jovens que no mundo é tudo uma questão de sorte, onde as oportunidades são para os que estão mais adaptados e com a sorte de terem mais recursos. Chegados a esta ideia, vale a pena meditar na responsabilidade do Estado; se desejamos um Estado mais social que tenta dar igualdade de oportunidades ou de um Estado que pensa em meras alternativas como forma de se desresponsabilizar da sorte de cada um. Longe de querer considerar que existem os coitadinhos e os sortudos, mas no que é básico à Humanidade, como é a Educação, o Estado tem de contribuir para o equilíbrio.
Se esta pandemia mudou o mundo, alterou também a forma como o ensino será de agora em diante; por essa razão, há que pensar seriamente numa forma tecnológica e universal para que a Educação seja um direito de todos por igual. A Telescola é um desenrasque e não uma solução produtiva - na minha ideia, que passei por esta experiência durante dois anos. Eu não tinha o mesmo nível de conhecimento que os meus colegas que andaram no liceu.