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BLOGUE DO MANEL

A vida tem muito para contar e partilhar com os demais. Esta é a minha rede social para partilhar histórias, momentos e pensamentos, a horas ou fora de horas, com e sem pés nem cabeça. Blogue de Manuel Pereira de Sousa

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A vida tem muito para contar e partilhar com os demais. Esta é a minha rede social para partilhar histórias, momentos e pensamentos, a horas ou fora de horas, com e sem pés nem cabeça. Blogue de Manuel Pereira de Sousa

O ASSALTANTE É LOBO E VESTE PELE DE CORDEIRO!

Manuel Pereira de Sousa, 22.05.16

 

Artigo de Pedro Santos Guerreiro.jpg

                 Excerto do artigo de Pedro Santos Guerreiro, Expresso, 21/05/2016

 

Concordo plenamente com as palavras de Pedro Santos Guerreiro. Sabemos bem que é verdade. Não há que esconder ou fazer de conta que não sabemos. Para se roubar um banco não é necessário ir encapuçado e de arma em punho, sequestrar toda a gente que se encontra no interior da Agência. O ladrão tem de ser mais esperto. Tem de entrar com pele de cordeiro, para depois mostrar que é lobo - só mostra quando todo o trabalho já está feito. Foi assim que aconteceu no BES. O lobo sai e o que sobra fica dentro para alguém limpar. Sim. Este tipo de ladrões deixa muito que limpar. A devastação é grande.

Mas, a melhor maneira de se ser roubado é quando muitos são donos do banco. São quando pagam do bolso as injeções de capital. Fazem crer que são donos do banco, mas apenas quando há prejuízos para liquidar. Assim se vendeu a imagem do BES, comprar papel comercial duvidoso ou acorrer ao aumento de capital, enquanto o lobo estava dentro para o golpe fatal.

Dizem que vivemos acima das possibilidades. Falsas generalizações. Os bancos viveram acima das possibilidades. Foram estes que deram créditos em jeito de prenda aos amigos. Amigos da onça. Meros parasitas da economia nacional.

Falta saber se ainda há mais lixo para limpar debaixo do tapete. De surpresas já estamos cheios. Existe o medo que algum outro lobo com pele de cordeiro exista em alguma administração à espera do momento para o seu golpe final. 

O BES EXIGE MÃO PESADA…

Manuel Pereira de Sousa, 31.03.15

Terminaram as audições. Agora é tempo de fazer o relatório final. É tempo do balanço político do que aconteceu. Ainda há muito trabalho pela frente, mas o mais importante, as audições dos responsáveis, já terminou. Assim se caminha para o final mais uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Assim se tenta chegar à conclusão do que aconteceu com o BES, melhor, com o Grupo Espírito Santo. Entender o que se passou no BES é pouco porque detrás há muitos envolvidos que levaram à queda do império e do que consideravam o Dono Disto Tudo.

Terminaram horas e horas, dias e dias de audições de elementos importantes para o processo, de onde se poderão retirar imensas conclusões para que no futuro se evitem situações semelhantes. Com esta comissão, os políticos saíram valorizados e prestigiados pela forma como conduziram os trabalhos sempre concertados, bem fundamentada e com irrelevância para as ideologias políticas. Assim devem funcionar as instituições para prestígio do voto que o cidadão deposita nas urnas.

Ricardo Salgado não é o Dono Disto Tudo, mas o grande responsável pela queda do grupo, do banco. Creio que ficou demonstrado que sempre foi resistente ao poder e sempre desejou estar no lugar de Presidente do Grupo para controlar todas as jogadas que levaram à exposição do BES ao GES. Foi a ideia de ser o controlador que o levou a cometer as decisões menos positivas para o banco. Não aceitou que o poder fosse partilhado com o Estado, negando a capitalização Estatal como as restantes instituições financeiras. Acreditou que a almofada existente seria suficiente, para engano dos seus clientes.

Ricardo Salgado é o principal causador de todos os estragos, a quem terá dado ordens para a venda de papel comercial do GES aos clientes do BES, comprometendo as economias sob a garantia de um bom investimento. Até grandes gestores como os da PT foram enganados em centenas de milhões de Euros condicionando assim o seu futuro e a consequente desvalorização da empresa. Até o Banco de Portugal e a CMVM pouca atuação tiveram, para evitar este descalabro, tendo aconselhado o aumento de capital por parte dos clientes. Se estas entidades ou empresas foram enganados, muito mais facilmente seria enganado o comum cliente sem qualquer conhecimento sobre os produtos tóxicos que estava a comprar. CMVM e Banco de Portugal não conseguiram conter a atuação de Ricardo Salgado e não tinham poderes para o afastar do Banco. A medida de resolução foi aplicada porque o BCE informou que iria impedir o BES de se financiar e solicitou a devolução de 3 mil milhões de Euros no prazo de 48 horas – valor que não estava disponível na dita almofada que Ricardo disse existir.

É fácil que se atirem culpas a Carlos Costa pelas decisões que tomou, mas sem poderes para fazer mais seria difícil avançar para uma alternativa melhor.

O caso BES é uma lição para as instituições que têm o dever de regular o mercado e em último recurso deveriam ter poderes para tomar a atitude, seja ela qual for para salvaguarda dos clientes e cidadãos – caso contrário de nada vale existir supervisão, que fica à mercê de relatórios que as consultoras apresentam em concordância com o que é pedido pelo cliente.

O que se espera em todo este caso é que a matéria produzida na Comissão Parlamentar tenha dados suficientes para apuramentos na justiça de verdadeiros culpados e sobre esses exista uma punição, para que desta história existam responsáveis. Custa a crer que perante as evidências não existam prisões permitindo que responsáveis tenham o seu tempo para destruir provas e preparar o terreno adequado à sua defesa. A mão tem de ser pesada.

ERA UMA COMISSÃO DE INQUÉRITO SE FAZ FAVOR!

Manuel Pereira de Sousa, 17.11.14

Pelos lados de S. Bento o que mais se pede para qualquer situação é uma comissão de inquérito - dizem que os deputados o fazem como se fosse pedir um café lá pela cafetaria. E como em qualquer das comissões é necessário ouvir os intervenientes do caso, há sempre muita gente notificada para ir responder.

Na minha vida de político, num pequeno município, também desejei criar uma comissão para apuramento de umas dívidas prescritas - coisa pouca comparada com os milhões que envolvem as comissões de inquérito na Assembleia da Republica -; mas o sucesso não foi o mesmo porque as ditas oposições não sentem a mesma necessidade de esclarecer os acontecimentos.

Voltando às questões nacionais: Segunda inicia-se  mais uma Comissão Parlamentar de Inquérito, desta vez para apurar o que aconteceu no BES - a descoberta de um monstro bem maior do que os BPNs e BPPs. Ainda vai começar, mas diria que morreu antes do parto. Pelos vistos o verniz estalou entre os membros dos diversos partidos que farão parte da dita comissão - não se entendem em relação à ordem de audições da enorme lista de pessoas que vão ser ouvidas. Vão começar pelo Sr. Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, e restantes reguladores, enquanto que Ricardo Salgado - o criador do monstro - ficará para o final. Neste ponto, admito que o PCP tem a sua razão em contestar esta ordem. Mais importante seria: primeiro ouvir o criador do monstro e depois os reguladores - até porque existe um relatório que nem está pronto e que será necessário estudar antes de se inquirir o regulador.

Enorme lista de nomes. Sim. Enorme. São 121 pessoas. Durante quanto tempo - meses - esta comissão se vai manter? Este governo vai acabar a legislatura, outro irá governar o país e muitos acontecimentos irão suceder. Quero com isto dizer que: facilmente esta comissão terá uma morte anunciada, para felicidade de algumas personalidades a ser inquiridas.

A Comissão Parlamentar de Inquérito do BPN teve metade das pessoas e demorou o tempo que todos sabemos e teve um resultado que todos também conhecemos; nesta, os reguladores ficaram para o final das audições. O que se aprendeu na prática? Nada. Esta comissão foi criada para morrer sem começar o seu trabalho. 

SOMOS OS ETERNOS CULPADOS PELO COLAPSO DO BES E DA PT?

Manuel Pereira de Sousa, 25.10.14

O que está a acontecer com o Grupo PT é aterrador para a economia portuguesa e uma confirmação: durante muitos anos a imagem de empresas sólidas era apenas uma imagem de fachada, onde se escondia o pior da economia.
Isto explica o que se passa com a economia do país. Este caso explica porque chegamos a este ponto. Quando durante tanto tempo andaram a culpar os portugueses por terem gasto mais do que deviam e que lhes era permitido, sabemos bem que por detrás desta teoria – usada só para nos sacrificar com mais cortes, impostos e dificuldades – estava uma bolha sob pressão que mantinha os grandes grupos à tona da crise.

Ao comum dos portugueses, como eu, que vem assistindo ao evoluir da situação do país para uma situação cada vez mais precária e sem acreditar muito que existe uma luz ao fundo do túnel, ficamos à espera das consequências futuras do colapso de um Banco e de uma Operadora, que eram os grandes senhores disto tudo. Vamos todos pagar o que está a acontecer. Sairá do nosso bolso. Quando sair do bolso será o governo a dizer que somos os culpados para justificar o motivo de termos de pagar.
O comum contribuinte, seja ele funcionário público ou privado, terá sempre as culpas de tudo o que acontece de mal à economia. Somos piegas – diz o nosso primeiro-ministro. Somos preguiçosos se criticamos o Orçamento de Estado – diz o mesmo senhor arrogante. Mas, não sabe o Senhor Primeiro-Ministro o quanto trabalham muitos portugueses para conseguirem ganhar a sua migalha para ter pão em casa e manter uma casa ou uma família de pé.

Sim. Seremos os eternos culpados. Assim nos passam a mensagem. E nós, bem comportados que somos, aceitamos o que estes cretinos nos fazem.

A BORBOLETA TEM VIDA CURTA TAL COMO O NOVO BANCO

Manuel Pereira de Sousa, 14.09.14

Todos sabem que a borboleta tem vida curta. O seu exponencial de beleza depois de se libertar do casulo é curto. Curta poderá ser a vida do Novo Banco – que adotou a borboleta como símbolo. Os acontecimentos desta semana dão provas do que aqui falo e confirmam os meus receios em relação à solução encontrada para resolver um dos casos mais complexos da banca portuguesa.
A equipa presidida por Vítor Bento chegou ao antigo Banco Espírito Santo sem saber o que iria encontrar. A imagem de solidez que sempre foi passada para o exterior, levava a crer que o banco estava sólido financeiramente e que a guerra entre a família Espírito Santo para tomar o poder era sinal de que existia dinheiro, para além do grande poder nisto tudo. A equipa de Vítor Bento recebe em mãos um presente envenenado – tal como Cadilhe quando entrou para o BPN. Depois a mesma equipa de gestão é reconduzida após a decisão do Banco de Portugal em dividir o Banco em dois – o Novo e o mau. Ao que parece a decisão não foi bem vista pelo Presidente reconduzido e pela sua equipa. Foi-lhe pedido que continuassem no banco construindo uma estratégia a longo prazo com o objetivo de ser vendido. Porém, os gestores são confrontados com mudanças de rumo e a estratégia de governação do Novo Banco é para uma venda a curto prazo. Terão sido estas as razão para que Vítor Bento, José Honório e João Moreira Rato apresentassem a sua demissão. É no mínimo compreensível porque é impossível que uma empresa – numa situação desastrosa – esteja constantemente a mudar de rumo, sem que se dê tempo à apresentação de qualquer projeto e à execução de qualquer estratégia.

Este tipo de decisões, vindas do Banco de Portugal, mostra como o caso é terrível e mostra como não estamos preparados a lidar com a situação. Todas as decisões que se tomem são más; porém, o Banco de Portugal terá de tomar a que for menos má e que represente menos prejuízo para o Estado e contribuintes.

No meio de toda esta confusão não se ouve a voz do Governo, que sempre se desviou do caso. Mas, é imprescindível que tome posição. Não pode fazer “ouvidos moucos”. Esta atitude em nada ajuda à estabilização desta situação.

O mais impressionante em tudo isto é que as decisões ou pretensões do Governo, que nada diz ou decide, sejam comunicadas ao público através dos comentadores políticos – como Marques Mendes, na SIC, que divulgou a venda rápida do Banco.

Não há administração que sobreviva às diversas intensões que lhes são comunicadas e aos anúncios do que vai acontecer vindos de fora.

Sou muito leigo em assuntos relacionados com a Banca para criticar as opções do Presidente do Banco de Portugal – assim como a maioria do povo português ou dos clientes do Novo Banco -, mas isso não invalida que tenha uma série de questões ou comentários a fazer de acordo com as notícias que tenho vindo a ler sobre o assunto. O semanário Expresso revela em título “FMI TINHA GES NA MIRA HÁ UM ANO”. Porquê esta surpresa?
FMI já tinha denunciado preocupação com o grupo GES no segundo semestre de 2013 - assunto que seria aprofundado aquando da 10ª avaliação da Troika. Em Novembro, o FMI teria contactado a CMVM com indícios que seriam suficientes para a preocupação que haviam manifestado – lembrem-se que este foi o único banco que não recebeu qualquer ajuda do Estado. Em Julho deste ano, o FMI recomendou uma supervisão bancária.
Faz sentido que só agora se tenha chegado à triste conclusão do estado do grupo BES?
Como disse, sou um leigo na matéria, mas faz-me confusão algumas das coisas que leio.

PAGAM TODOS PARA O NOVO BANCO

Manuel Pereira de Sousa, 10.08.14

Já referi neste espaço que a economia portuguesa sofre do Ébola há muito tempo. Na última semana o PSI20 caiu 7% acumulando perdas de 17% desde Janeiro deste ano. As crise no BES e todas as alterações que estão a decorrer na sua salvação fizeram-se sentir em perdas acentuadas nos restantes bancos – ainda que estejam numa situação aparentemente mais segura. BPI caiu 15,5%, Millennium BCP 17% e Banif 22%. São dados preocupantes. A banca portuguesa vale neste momento 1400 milhões de Euros. O empréstimo do Estado é de 3,9 mil milhões.

O Novo Banco – criado em tempo recorde, enquanto a restante banca descansava o seu fim de semana – precisa de uma injeção de dinheiro superior ao que se esperava e superior à almofada que o BES dizia existir de 2,1 mil milhões de Euros. Uma almofada que não dá conforto – é muito baixa.

A opção de se criar o Novo Banco - o lado bom do BES - e separar o lixo tóxico - que fica no mau banco – foi a solução que o Banco de Portugal criou como forma de salvar o que ainda resta do BES e para segurar os clientes. É a solução que o tempo dirá se boa se má. Alguma coisa tinha de ser feita rapidamente. Muito tempo já se perdeu com esta história.

Durante a semana que passou a comissão parlamentar permanente – se assim se chama – ouviu de Maria Luís Albuquerque esclarecimentos que não foram novidades perante o que já havia sido dito numa entrevista à SIC. Desde sempre reiterou que a decisão foi do Banco de Portugal, que o governo nada decidiu. Aquilo que a Sra. Ministra das Finanças disse foi que o governo “sacode a água do capote” e despe-se de todas as responsabilidades presentes e futuras dos acontecimentos. Por essa razão, o Sr. Primeiro-Ministro continuou as suas férias. O Governo dá assim a impressão de normalidade e de que o assunto é da economia privada. Errado. O Governo tem responsabilidades no assunto. Quem gere o dinheiro da Troika? O Governo. Quem vai emprestar 3,9 mil milhões ao Novo Banco? O Governo. Quem vai pagar parte do juros deste empréstimo? O contribuinte. Quem gere o que os contribuintes pagam de impostos e juros dos empréstimos da troika? O Governo. Concluindo: o Governo é responsável na gestão do caso do BES. Poderei ter cometido erros pelo meio do meu raciocínio de perguntas e respostas, mas é desta forma que a informação nos chega e é desta forma que faço a relação entre tudo.

O juro a ser pago pelo Novo Banco por este empréstimo é baixo, o que pode obrigar o Estado a pagar a diferença desse juro com o juro real aplicado pela troika. Significa isto que os portugueses terão de pagar através dos seus impostos uma boa parte para salvar a banca. É justo? Não, não é. Nem para os clientes como eu. Nem para os que não são clientes. Todos estarão a pagar por um prejuízo do qual não têm responsabilidades.

Mesmo que parte do dinheiro venha do tal fundo de resolução pago pela banca para estas situações criticas, não deixa de ser um imposto que cada cliente paga ao Estado através da Banca e a Banca vê neste fundo um investimento futuro para uma aquisição – o Novo Banco é esse investimento. Se esse investimento não fosse assim tão rentável não estariam agora interessados no reforço do fundo de resolução.

O Novo Banco pode nascer mais seguro. Há dinheiro fresco. Qual a garantia do seu sucesso? Se o pânico dos depositantes levar a levantamentos sucessivos? Deixa de ter clientes, dinheiro em caixa, deixa de ter valor comercial, crédito, deixa de conseguir pagar o empréstimo. O sucesso é incerto e há sempre o risco dos portugueses terem de carregar mais este prejuízo nas suas vidas e nas suas economias, independentemente do banco a que pertencem.

Há muitas interrogações que não se resolveram na criação do Novo Banco porque há bens e pessoas que podem ingressar no Novo Banco. Poderá não ser assim tão linear porque bens e imóveis a quem pertencem? Servem de garantia ao Novo Banco ou ao banco mau?

A distinção entre ativos para o banco bom e ativos tóxicos para o banco mau baseiam-se em quê? Se eu tivesse um ativo que ficasse no banco mau teria todo o direito de saber com que critério e poderia recorrer à justiça para um reclassificação desse ativo porque no fundo entraram como poupanças e com garantias. Assim se podem criar processos sucessivos de inúmeros clientes inconformados. Assim se pode contaminar o banco bom com prejuízos. Assim 3,9 mil milhões se podem tornar em muito pouco. Assim o banco mau se torna bom.

São inúmeras as interrogações e incertezas que os contribuintes gostariam de ver acautelados para sua segurança. São as explicações que todos têm direito já que todos pagarão mais um prejuízo com maior impacto que o BPN. São negócios de risco como aqueles que ditaram o fim do BES.

O ÉBOLA CONTAMINA A ECONOMIA E A OPINIÃO PÚBLICA.

Manuel Pereira de Sousa, 09.08.14

O vírus Ébola parece ter chegado a Portugal, muito antes dos recentes acontecimentos em África. Há muito que ele contamina a economia portuguesa, que a cada sinal de retoma cai de seguida por mais uma crise em alguma empresa que domina o sistema. Já o disse: a economia portuguesa é muito pequena e vacila quando uma das grandes empresas passa por um momento menos bons ou quando uma pessoa que era Dona Disto Todo cai em desgraça pública, pelos erros que cometeu alegadamente em favor de si próprio e da sua família santa.

Poderia dizer que já chega de tantos artigos sobre a história do BES e de Ricardo Salgado, mas sendo este um assunto que domina a economia do país, que interessa a todos os portugueses – não apenas aos clientes – e que a cada dia que passa tem cada vez mais contornos económicos e políticos, interessa sempre falar dele as vezes que forem necessárias. As opiniões que passam pela opinião pública são óbvias e todos concordam, mas são tão necessárias como a necessidade de nos lembrarmos sempre do assunto porque os segredos duraram tempos demais para nosso prejuízo. Um prejuízo que agora sai caro a todos.

Agora que “a corda rebentou” somos todos economistas de bancada e com créditos de opinião como se fizéssemos diferente do que fez o Governo, o Banco de Portugal, a CMVM ou a Justiça. Até poderíamos fazer porque todos tinham possibilidade de agir em tempo próprio. Porém, para quem está de fora a visão das coisas é sempre muito diferente daquela que se tem quando se está dentro - as circunstâncias do momento e os jogos de poder são fundamentais, determinantes e condicionam a movimentação das estratégias.

Prefiro criticar, mas sempre com a reserva de que essa critica vale o que vale perante a verdade dos factos e o calor do momento. Até porque seria sínico se dissesse que este assunto não me tem interessado. Tem todo o meu interesse pelas circunstâncias que envolve o meu dinheiro como cliente e como fiel contribuinte deste Estado.

Por vezes, somos “8 ou 80” – passivos demais ou extremistas. Corre nas vais. É a manifestação do vírus. Aquele que contamina a economia do país.

SALGADO - O POBRE

Manuel Pereira de Sousa, 08.08.14

Eles sabem fazer bem as coisas. São gente esperta. Quando alguém tenta apanhar alguma coisa já vai tarde. É o que dá para pensar quando vejo nas notícias que Ricardo Salgado não tem qualquer bem em seu nome – nem um carro. Aquele que era o Dono Disto Tudo transforma-se num pobre sem nada. Mesmo assim tem uma sala num hotel para trabalhar. Mesmo assim deve ter um motorista, uma casa onde viver e continua a alimentar-se. Não é caridade certamente. Sabem bem como colocar os seus bens a salvo de finanças, tribunais e de todos os que lhe possam cobrar pela gestão danosa que fez. Gestão danosa para os outros porque para si soube ter cuidados. O ex-Dono Disto Tudo agora deve rir de toda a “roda viva” em torno do banco e empresas do grupo, sem que um tostão do seu dinheiro sofra qualquer dano. Por vezes, há injustiças, mas é assim a vida…

EU TAMBÉM SOU CLIENTE DO BES

Manuel Pereira de Sousa, 04.08.14

Sou cliente do BES. Mas, daqueles clientes bem pequenos, que olha para os seus tostões, enquanto os acionistas olham para os milhões que acumularam durante anos. Sinto preocupação com o que se está na passar no banco em que confiei desde sempre as minhas parcas economias. A banca é assim mesmo. Há aqueles que entregam o pouco que conseguem poupar em vez de guardar no colchão e aqueles que investem o dinheiro em investimentos de risco, investimentos em dívida com o objectivo de ganhar muito mais. Por vezes, fico confuso: quem gere melhor o dinheiro? Eu que me fico com uma conta a prazo ou pessoas experientes, como os gestores da PT, que deixaram 700 milhões de Euros escaparem?

Apesar de cliente e preocupado com as minhas economias - ainda que seguras pelo fundo de garantia do Estado - compreendo os demais que são contra qualquer intervenção do Estado no banco, acabando os portugueses por pagarem um prejuízo que não lhes é devido – aconteceu com o BPN. Se o Estado investir dinheiro no banco para tapar os mais de 3 mil milhões de euros de prejuízo significa que esse dinheiro vai faltar noutras áreas essenciais ao país e aos cidadãos. Receio que o Estado possa negociar e vender o “BES bom” e ficar com o “BES mau”.

Quem deveria pagar o buraco financeiro e os respetivos prejuízos às pessoas lesadas seriam os investidores que utilizaram as entregas dos depositantes para investimentos tóxicos, alguns sem qualquer autorização dos clientes. Quem deveria pagar seriam os que financiaram empresas do grupo GES – grandes buracos que serviram para alimentar a família.

A economia portuguesa não pode ficar dependente da banca e dos seus prejuízos. Os portugueses não têm que sentir os impostos subirem ou não têm que carregar penosamente para o seu futuro os erros dos abutres. A justiça teria que ser mais penosa ou estes casos estarão sempre a suceder.

Aconselho a leitura de um artigo muito interessante, de
Raquel Varela.

O FIM DE UM REGIME

Manuel Pereira de Sousa, 01.08.14

Num verão pouco quente em relação a incêndios florestais (ainda bem), há outros incêndios graves a marcar os acontecimentos e as notícias - o fim de um regime. 
 
"O Fim De Um Regime" é o título de uma reportagem, da autoria de Pedro Santos Guerreiro, na Revista do Semanário Expresso. O trabalho é muito interessante para tentar compreender o pouco que se conhece acerca do império Espírito Santo - BES e empresas GES. Apenas o que se conhece porque há sempre novidades a surgirem a público cada vez mais graves, reveladoras das entranhas do poder e da governação de um império que mexe muito com a estabilidade da economia portuguesa. A economia portuguesa mostra-se débil quando algo deste género acontece porque as poucas empresas de topo são detentoras da maior parte da riqueza nacional e a sua debilidade é a debilidade de tudo o resto, mesmo que não dependendo diretamente desse império. 

Serei sempre muito pequeno para conseguir compreender este momento; até mesmo para tecer qualquer julgamento credível do que é justo ou injusto e do que deveria acontecer. Tenho a dizer que tudo isto me choca. Como é possível que, nos tempos atuais, diversas empresas e entidades estiveram alheias a tudo isto, mesmo aquelas que investiram de olhos fechados em dívidas que são difíceis de liquidar (caso da PT)? Custa-me a acreditar em casos de gestão puramente danosa e alheia aos inúmeros especialistas. 
 
Quando me refiro à reportagem do Expresso, quero demonstrar que existiu um órgão de comunicação social que desde muito cedo se preocupou com o caso. Ainda me lembro das primeiras investigações, há anos, em que o BES declarou publicamente cortadas todas as relações comerciais e publicitárias com a Impresa. Enquanto isso, conta-nos o Expresso, alegadamente Ricardo Salgado investia em publicidade nos jornais como forma de os alimentar numa crise publicitária gerada pelas quebras de receitas. Férias e passeios a jornalistas para as conferências do grupo à custa do grupo. Sei lá se mais alguma coisa. 
 
Enquanto Ricardo Salgado era o DDT - Dono Disto Tudo - jamais alguém ousou alguma coisa contra. O silêncio foi para a família Espírito Santo ouro para a ascensão e construção da queda. Agora que Ricardo Salgado saiu do BES e da crise que se instalou na família, todos o atacam de todo o lado. A fera deixou de ser perigo e pode agora ser atacada e vaiada por aqueles que deixaram de ser ameaçados ou até alimentados de forma promiscua. 
 
Custa-me saber que além daqueles que depois da ascensão ficam em desgraça, há uma série de outras pessoas que têm a sua vida em risco e que nada sabem destes negócios e apenas cumprem o seu trabalho. Em relação a esses poucos se preocupam porque onde os abutres poderem buscar o dinheiro enquanto há e onde há, a raia pequena ficará sempre a penar num futuro incerto.