Por: Manuel de Sousa




Fará sentido a comemoração anual do Primeiro de Maio? Farão sentido as manifestações que se realizam um pouco por todo o mundo nesta data em que se procura lembrar o trabalhador?

Estas questões são intrigantes e que merecem a reflexão de todos, sejam trabalhadores, reformados, estudantes, desempregados, políticos, governantes, outros que pouco querem fazer da vida e responsáveis por empresas e seus representantes. São questões que merecem a atenção de todos e um certa discussão, de onde se possam tirar conclusões construtivas e se possível que contribuam para o bem comum. Ridículo dizer isto. Onde já se viu que os atrás mencionados possam tirar conclusões que contribuam para o bem comum? Em lado algum. Já se fizeram muitas discussões em torno do trabalho e poucos progressos se atingiram no mundo laboral.

A data do 1º de Maio continua a fazer todo o sentido para lembrar aqueles que correm no seu dia-a-dia para os seus empregos e lutam para fazer o seu melhor, de forma a merecer o salário que recebem no final do mês, que nem sempre, na maioria das vezes, dá para as despesas e para manter uma qualidade de vida aceitável, num momento em que o nível de vida encarece, enquanto o mercado de trabalho torna-se cada vez mais apertado. É o dia-a-dia destas pessoas que vivem acorrentadas ao trabalho e às duras leis e realidades laborais que merece ser lembrado e reconhecido não só pelos seus colegas, mas também pelos seus superiores e pelos dirigentes políticos, que por vezes usam de uma classe para expelir ódios ou criar falsas expectativas de um futuro risonho que é ilusório.

A crise internacional que vivemos não está a contribuir para que a vida das empresas esteja fácil e os apertos económicos não param de aumentar até ao estrangulamento final. Com estes apertos sucessivos, mês após mês, ano após ano, vai-se apertando com a classe trabalhadora, a classe mais frágil, onde mais facilmente se toca, se despede e onde mais facilmente se encontra forma de verem resolvidos os problemas. Em paralelo muitos milhares de desempregados vêm o seu futuro hipotecado, sem esperanças de encontrar uma estabilidade num futuro próximo, um futuro onde se fica à mercê da miséria que o Estado contribui com o subsídio de desemprego. Procuram diminuir o peso do Estado na economia e subjugar a sua importância na regulação e organização do mercado. Critica-se o aumento dos dependentes do Estado, quando aqueles que mais criticam são os responsáveis para o aumento de dependentes de prestações sociais do Estado. Mas, esse Estado também não tem resposta para ser uma alternativa na criação de emprego e na geração de riqueza, de forma a contrariar o aumento galopante das desigualdades sociais.




Num país tão pequeno como o nosso, é preocupante a percentagem de desempregados que atingem a longa duração e sem que tenham perspectivas de futuro. São muitas as pessoas com idades avançadas, que em tempos foram a riqueza de mão-de-obra da nossa indústria e agora são colocadas de lado como não-aptos a ingressar numa qualquer actividade laboral. Vivem o pesadelo da falta de formação, vivemos as consequências de uma ditadura que nos voltou para dentro e nos encolheu horizontes. E agora? Que alternativas?




O 1º de Maio serve para lembrar também todos aqueles que sendo empregados são explorados pelos seus patrões, onde o princípio económico é apenas o lucro pelo lucro, o dinheiro que rendes pelo dinheiro que custas. São princípios tão desumanos, que muitas desgraças provoca na vida de cada um, onde os direitos deixam de ser direitos, as regalias são extintas e a insegurança laboral é cada vez maior. Os escrúpulos dos patrões são evidentes e inegáveis, mas abafados com os discursos da necessidade de sacrifício em tempos de crise.




É assustador o elevado número de pessoas que trabalham sob recibos verdes, obrigadas a pagar os seus impostos no momento e sem data certa para receberem o que é merecido do seu trabalho. Não quero imaginar os quantos por aí trabalham sem direitos, sem seguros e com os salários em atraso, não por falta de liquidez das empresas, mas por falta de cuidado e zelo dos seus gestores.




Tristeza e revolta sentem muitos portugueses que lutam e suam por um salário mínimo, enquanto muitos outros, aqueles gestores que todos conhecem, trocam impressões dos milhões que recebem de salário e das chorudas indemnizações quando saem dos cargos que deveriam manter até ao fim. É natural que encarem tudo isto com insulto. Vivemos num verdadeiro caldo social, que temo ver explodir, enquanto nada for feito para travar tanta injustiça que nos condena à miséria.




O 1º de Maio terá de ser sempre o símbolo de luta contra estas desigualdades laborais, contra os atropelos e contra a passividade de um Estado que engorda e pouco faz para que o número de dependentes diminua.