SENHOR PADRE HÁ UM POKEMÓN NA SUA HÓSTIA!
Senhor padre há um pokemón no sua hóstia, não a coma até eu o apanhar.
Pokemónmania ou Pokemómania – uma destas palavras pode designar os maníacos que aderiram à caça aos Pokemóns. O dicionário do meu pc ainda assinala estas palavras como erros – não estão no dicionário -, por essa razão, qualquer forma de escrever está correta. Já todos sabem o que isto é. Muitos, bem melhor do que eu. O objetivo é caminhar pelas ruas, pelos campos, pelos rios, pelas zonas históricas e descobrir os bichinhos mais ridículos de tão engraçados que são. Apanhar? Sim. Apontas a câmara do telemóvel e, quando o telefone o detetar, lanças a bola para o apanhar. Ah, esqueci-me, é necessário que esteja instalada a aplicação Pokemón Go para descobrir, com ajuda do GPS, onde andam os ditos bichos, que fazem as maravilhas de miúdos e graúdos. Pelo que aprendi hoje, existem alguns em locais históricos – o que ajuda a chegar ao local e conhecer um pouco da sua história. Descobri, hoje, que se podem chocar Pokemóns – tarefa que obriga a percorrer cinco quilómetros a pé (tem de ser mesmo a pé, não dá para fazer batota de automóvel). Com esta aplicação muita gente que estava enfiada em casa, colada ao sofá, aceitou o desafio de caminhar – os jogadores deixaram a sua vida sedentária e conheceram uma nova modalidade-; há quem o vá depositar num ginásio e depois vá treinar com o amiguinho (adeus personal trainner). Descobri também que permite fazer novos amigos e desbloquear conversas em qualquer lugar, mesmo no meio da rua, assim do nada – duas colegas minhas estavam, no Porto, junto a um edifício conhecido a apanhar moedas (outro dos objetos que se tem de apanhar), em êxtase, quando uns fulanos passam e reparam no que estavam a fazer (demasiado evidente) e num estado eufórico partilham com esses fulanos: “aqui há moedas”. Simplesmente eles riram e continuaram – falta saber se mais tarde voltaram de telefone em punho para descobrir as moedas.
Já para não falar que, durante o fim de semana e hoje, foram detetados Pokemóns ao meu lado – eles andam comigo, sou a fonte de atração. Podia ser um rapaz tímido e, neste momento, estava a sair de meu mundo para descobrir que entre mim e os Pokemóns existe uma atração – eu estou com eles ou melhor: eles estão comigo. Só por esse motivo não instalo a aplicação para os apanhar – não tenho de correr com telefone na mão, eles naturalmente vêm ao meu encontro.
Pelos vistos há mesmo doidos, são imensos doidos. Já ouvi histórias de quem parou a viatura numa rotunda para sair e apanhar um. Episódios de trânsito caótico causado por pessoas que largam os veículos e correm para o sitio onde está o dito bichinho. Existem relatos de crianças que caminharam por ruas escondidas das cidades e encontraram cadáveres de pessoas desaparecidas há anos. Eis a maravilha da realidade aumentada, uma tecnologia tão pouco explorada pelos utilizadores, onde as marcas sempre desejaram chegar, mas não estava a ser fácil. Eis um ponto de partida. Falta perceber até que ponto a humanidade será racional na utilização do jogo. Nem quero imaginar nas proporções a que isto pode chegar e a perversão que pode existir – estou a imaginar um acidente em cadeia na autoestrada porque alguém travou de repente para correr atrás de um pokemón; a tentativa da polícia conter multidões em êxtase porque num dado lugar está um bichinho para juntar à coleção; nos locais de trabalho transformados em antros de seres imaginários; das promessas religiosas se tornarem na caça ao pokemón; das pessoas correrem riscos porque se aventuram e se atiram de um penhasco porque é mais importante um ser da realidade virtual que a própria vida; de alguém estar a ignorar o outro que está em apuros, a precisar de uma ajuda urgente de vida ou de morte.
Já que falo em animais, gostaria de saber o que pensa o PAN (Partido de Animais e Natureza) acerca do assunto – estaremos a violar os direitos dos animais? Fará sentido regulamentar a caça ou simplesmente proibi-la? Estou a imaginar os nossos deputados da Assembleia da Republica na caça de Pokemóns durante as sessões plenárias e nas comissões de inquérito.
Bem, acho melhor não explorar ainda mais o assunto porque sei que a minha mente vai pensar nas coisas mais horrendas e depois serei linchado nas redes sociais. (imaginem as pessoas numa cerimónia fúnebre a caçar pokemóns e a pedir ao coveiro para não tapar a cova porque há um….) Chega…