POUPANÇA EM NOME DA PANÇA
Vivemos num mundo puramente consumista. Sim, já sei disto há muito, não acordei agora para a realidade. Somos convidados ao desperdício. Também tenho noção disto, a par das realidades que existem no mundo e mesmo na pequena sociedade portuguesa. Vivemos numa sociedade de extremos, onde uns pouco têm e desejariam ter e outros têm e desperdiçam – falta saber se tudo o que esbanjam é à custa dos que nada têm. Isso daria uma grande discussão ideológica, mas é mais prático meter a cabeça debaixo da areia…
É tudo um contrassenso. Pedem-nos para poupar para os tempos difíceis porque a austeridade ainda não desapareceu das nossas vidas. Pedem-nos para termos cuidados com a alimentação porque estamos a tornar-nos cada vez mais obesos – andamos a comer para além das necessidades do nosso organismo. A quem agradar neste jogo? À carteira ou à saúde? Vejamos: fui a um shopping para comer qualquer coisa; no balcão tenho duas propostas; escolher dois hambúrgueres, uma bebida por 6 Euros e tal ou optar por um menu a rondar os 5,80 Euros com três hambúrgueres, batata frita de acompanhamento e bebida. Sou incentivado a gastar menos para comer ainda mais, tendo a noção de que não seria capaz de comer o menu todo por ser comida em excesso. Sou incentivado ao desperdício, em nome de algo maior para o nosso mundo económico: a carteira. Fazendo contas, com o desperdício ainda sobra dinheiro para o café. A lógica da economia é sempre ter mais por menos e esta é uma das provas em que isso acontece. Ficamos todos contentes quando conseguimos algo assim porque na cabeça só funciona a poupança em função de uma boa pança.