O VOTO É UMA ARMA QUE O 25 DE ABRIL NOS OFERECEU! VIVA A DEMOCRACIA
Num ano se conseguiu algo que nunca tinha acontecido até então: construiu-se do zero os cadernos eleitorais, as urnas, a logística para que, em todo o país, todos pudessem usar o seu novo direito cívico. A afluência às urnas foi de 91,7% de eleitores.
Volvidos quarenta anos muito mudou. O eleitorado perdeu a energia interventiva de Abril. A política perdeu o seu crédito. Os agentes políticos passaram a ser considerados como mediadores de interesses pessoais, corporativos e a política passou a ser entendida
como forma de assegurar o futuro profissional e o trampolim para outros voos em troca dos favores. Essa pode ser a explicação para que os níveis de abstenção sejam cada vez mais preocupantes. Não é a melhor forma de protesto para a mudança porque nada mudou com uma elevada abstenção. A política nacional continua a ter parte responsável no descrédito junto do eleitorado. A idoneidade dos eleitos ainda é uma zona cinzenta, que esconde sempre uma polémica, uma falta cometida no passado e com isso se procura criar assunto político para ataques entre partidos e oposições. Como pode o eleitorado confiar em quem se propõe a governar quando sabem das faltas que um primeiro-ministro teve em relação ao pagamento de impostos; quando existe favores como os vistos gold; quando existe um ex-primeiro-ministro preso por suspeitas de enriquecimento ilícito? Como podemos deixar que nos governem quando os próprios partidos têm dificuldades de resolver as finanças internas? O povo não acredita na política quando a vida privada é sobreposta às ideias tão necessárias, para que o país saia da crise de rumo em que vive mergulhado. Não se pode ter credibilidade quando as prioridades estão invertidas.
Também antes do 25 de Abril havia cofres cheios; também antes do 25 de Abril a fronteira era o destino de muitos. Tal como hoje, amanhã vamos continuar a conviver com as dificuldades sociais e económicas. Infelizmente, há semelhanças entre os tempos atuais e os tempos da ditadura.
Passados quarenta anos das primeiras eleições livres era bom sinal que estivéssemos em mudança e, apesar de toda a desgraça, existam movimentos novos, partidos com menor expressão ou independentes que possam ganhar lugar no debate público, nacional e regional. Estes poderão ser as forças de incómodo em relação à passividade dos grandes partidos, confortados na sua posição maioritária, e a esperança do eleitorado nas novas ideias e na defesa das populações, quando já não acreditam e não têm outra forma de serem atendidas por quem as governa. É importante que essas forças sejam capazes de se manterem e de corresponderem às expectativas em quem depositou um voto, por acreditar na diferença que ainda é possível existir e assim possam continuar o seu trabalho sem receios que os incomodados, os mais representados, imponham as suas regras e provoquem o silêncio.
Escolhi relembrar as primeiras eleições livres por ser um acontecimento só possível com a revolução de Abril e para relembrar que um voto é muito poderoso e que pode marcar a mudança política. A liberdade é isso mesmo: permitir que por um voto se ganhe e por um se perca dependendo da vontade do povo.
Viva o 25 de Abril! Viva Portugal!