O RESCALDO DE LONDRES
Desde tempos da II Guerra Mundial que Londres não vivia uma situação tão caótica e tão complexa como na última semana, em que os motins transformaram esta cidade num palco de guerra.
Se no tempo da senhora Thatcher os confrontos foram entre a polícia e a comunidade negra, em 2011, os confrontos em nada podem implicar o multiculturalismo de Londres porque as revoltas foram provocadas pelos naturais e não por emigrantes. Os números demonstram a gravidade dos últimos dias, 5 mortos, 1500 presos, 114 milhões de Euros em prejuízos, acredita-se também por culpa da pacividade da polícia na gestão da situação e pouco eficaz nos meios e métodos utilizados para controlo dos revoltosos. A provar a ineficácia da polícia, apenas quando se anunciaram 16 mil efectivos nas ruas e a autorização para utilizar canhões de água e balas de borracha, os ânimos acalmaram e a ordem começou a existir nas ruas de Londres. Além disso, motins como estes desintegram-se ao fim de alguns dias porque não existia qualquer organização nos ataques e nos saques. Tudo não passou de algo desorganizado, em que uns fizeram por imitação de outros. Não existiu qualquer motivo ou renvidicação, apenas o prazer de destruir, saquear e roubar motivados pelas imagens e pela mobilização instantânea nas redes sociais e pelos Blackberrys.
Referi jovens porque os 1500 presos, até ao momento, têm idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos. Jovens em época de férias e que acham cool pilhar o que foi construído pelos seus conterrâneos com o suor do trabalho. Jovens que não se preocupam em ser úteis ao seu país, mas ao que parece anceiam por oportunidades na sociedade. Como pode a sociedade aceitar e acreditar no seu futuro, quando deparada com este cenário, que não representa o melhor exemplo para um jovem? Jovens que apesar de não concordarem com o sistema social e político em que vivem, são meros parasitas que vivem dos apoios sociais do Estado, pagos por quem agora tem os seus bens pilhados. Como podem falar em falta de oportunidadess? Vale apena o Estado continuar a contribuir financeiramente? Contribuir e pagar para aumentar o espírito consumista destes jovens que foram roubar o que não lhes pertence, roubar pela segunda vez porque não chega roubar o Estado? Não estamos perante jovens que vivem na pobreza e que necessitam do básico ou então não vestiam roupas de marca e não utilizavam telefone de última geração, que usaram para fotografar e filmar as suas tristes figuras, incentivando os outros jovens a faze-lo. Não roubaram bens essenciais, mas bens futeis e caros.
Nestas alturas, vemos o pior das redes sociais e a forma como a liberdade passa a ser o pior inimigo da ordem e da lei e transforma um país num caos. Isto não é liberdade, é libertinagem e ditadura radical, de quem não conheceu a censura e o medo de se manifestar pelos verdadeiros direitos.
Culpa de quem? Do Estado que lhes paga para não serem úteis à sociedade. Os pais têm alguma responsabilidade? Falharam em alguma fase do processo educativo? Será culpa do sistema Educativo que não foi capaz de formar pessoas educadas, com cultura e com formas de pensar livres, mas coerentes? Não aceito que a responsabilidade seja da falta de oportunidades. Isso é desculpa falsa. O que fizeram estes jovens para terem acesso às ditas oportunidades?
Concordo com Miguel Sousa Tavares, no artigo do Expresso, quando lembra a quantidade de jovens de outros países que desejariam ter a oportunidade de crescer como estes que deambulam desordenadamente por Londres e quantos vivem condenados à miséria e a uma vida que convive minuto a minuto com a morte. Vale apena pensar nisto quando um jovem atirar uma pedra para destruir algo do seu país.
Manuel de Sousa
manuelsous@sapo.pt