FUTEBOL, A CONTEMPLAÇÃO DO MOMENTO
Num espaço comum, onde jantou ou almoço – no meu local de trabalho -, estão sete pessoas em absoluto silêncio – entram e saem e continuam em silêncio – coisa que não é normal em dias comuns, em que entram a conversar e comunicam com os que estão nessa copa. Coisa que não é normal em dias comuns - foi o que escrevi -, mas agora, neste momento, não é um dia normal? É, mas é diferente porque na televisão está a passar o dérbi Benfica-Sporting. Essas pessoas, mesmo colegas, estão em silêncio por isso, a sua atenção é para o jogo que passa na televisão.
O silêncio continua, não há troca de palavras – Golo, manifesta um no preciso momento em que o Benfica marca o primeiro – porque o jogo assume a maior importância que qualquer conversa pode ter neste momento. Acho que perante o futebol, qualquer conversa perde qualquer interesse, assim como, a refeição nem parece ser saboreada com o devido interesse que lhe merece porque entre garfadas há espasmos e bocas abertas para a televisão.
O único que parece alheio ao jogo seu eu, que vejo de fora esta cena e tento compreender o interesse das pessoas neste momento. Entram mais pessoas, mas o silêncio continua a reinar e a ser imposto mentalmente por quem já cá está – uns sorrisos contidos, uns murmúrios e nada mais.
Poderia achar que a só a religião pede silêncio ou mesmo o fado que são dignos de contemplação, porém, num país de três “efes”, todos merecem ser interiorizados e venerados da mesma forma, pela importância que têm na genética do nosso povo.
Sim, o futebol é um dos nossos fados, nele está a esperança do país e até a alegria generalizada do povo (não fosse a única cura da depressão coletiva em que vivemos). Sim, o futebol é a religião de muitos, que devotamente rezam em silêncio pelos golos e pela vitória do seu clube. As reações são sempre muito apaixonadas – seja para o bem ou para o mal.
O jogo continua, parece que pouco emocionante, porque o silêncio apenas é quebrado pela conversa de duas colegas que falam do seu dia.