NA PELE DE UM ALUNO E DE UM PROFESSOR...
Vejo as notícias do dia, já um pouco tarde, e não posso ficar indiferente à greve dos professores; greve que provocou uma certa confusão na realização de exames nacionais – as imagens que nos chegam do liceu Sá Miranda, em Braga, é um exemplo do caos do dia. A escola pública teve um dia negro, o único com uma visibilidade mediática, já que a greve às avaliações tem muitos dias – e o atraso nas avaliações poderá ter mais influência e talvez seja mais prejudicial que uma greve que coincide com um exame nacional.
O decorrer dos acontecimentos, que continuará com novos capítulos nos próximos dias, deixa grande parte dos portugueses perplexos e a questionarem-se sobre os motivos dos professores e se realmente justificam uma luta tão cerrada ao Ministério da Educação.
Se fosse um aluno que teria o exame hoje, como me sentiria perante a incerteza da realização do mesmo? Depois de vários dias de estudo a anulação do exame poderia ser frustrante, para além da ansiedade que se vai criando com o aproximar da hora e da incerteza – mas, o exame poderá sempre ser realizado numa outra altura, já que a matéria estaria estudada. Porém, existe um imbróglio por resolver, uns alunos fizeram exame outros não tiveram essa possibilidade, como se vai fazer agora? Os que vão fazer posteriormente sairão beneficiados ou prejudicados? O grau de dificuldade será o mesmo? Até que ponto os que conseguiram fazer o exame hoje terão resultados reais, depois de tanta pressão e confusão no exterior de algumas das escolas, a ponto de ficarem desconcentrados? Que validade tem os exames quando alguns foram alegadamente entregues fora de horas e outros alegadamente vigiados por pessoas sem a formação necessária para o correcto preenchimento e distribuição das versões? Em que condições foram realizados os exames, quando existem relatos de que alguns foram realizados em cantinas das escolas? Que consequências para esses alunos que não têm culpa destas condições menos adequadas?
São motivos que devem deixar revolta em muitos estudantes, tenham ou não realizado os exames – o princípio da igualdade não existiu.
Confesso que tenho alguma dificuldade em perceber muito do que está em questão, assim como, perceber se estas reivindicações têm reais fundamentos para uma greve e uma contestação tão elevada – atirar a pedra seria muito simples sem ter a sensibilidade de perceber como vivem os professores; ou seja, se estivesse num lugar de professor compreenderia e teria uma visão muito diferente em relação aos motivos que movem estas pessoas. Sei que as suas vidas têm limitações; não é fácil estar numa carreira em que nem sempre têm horário completo, estão em constante mobilidade, sem possibilidade de terem uma família estável e uma vida segura, têm de trabalhar para além das aulas (aulas para preparar, testes para fazer e corrigir, avaliações para lançar), têm um número de alunos por turma cada vez maior (o que não permite um acompanhamento com qualidade a todos, numa escola pública igual para todos).
Temo que para o Ministério da Educação tudo seja uma questão de números e não uma questão de qualidade de ensino e igualdade com os alunos que são os principais lesados desta guerra. Poderia ter gerido esta situação de forma diferente? Talvez.
O ensino é o futuro do país e a qualidade e estabilidade do mesmo terá reflexos na formação dos alunos e na sua qualidade como pessoas e profissionais.