UMA VACINA PARA TI, UMA PARA MIM, OUTRA PARA QUEM APANHAR
Bem, já deu para perceber que isto da vacinação em Portugal dá argumentos para todos os lados; uns dizem que está cheio de casos dos que se metem na frente da fila; outros dizem que estamos a vacinar bem e com percentagens acima da média da União Europeia.
Português que sou, embarco agora na primeira teoria (os que passam à frente) porque é sempre mais interessante que dizer que está a correr bem.
Vivemos em Portugal, sabemos bem a cultura que temos, sabemos, há tempo suficiente, de que genes fomos constituídos, para acharmos tão estranho que uns engraçadinhos, por se acharem, mais que os outros, tenham o seu nome na lista para serem vacinados primeiro que os prioritários.
A questão de ser prioritário é sempre relativa, o que é prioritário para mim não é para o Zé, muito menos para a Maria e assim por diante.
Quem elaborou o plano esqueceu redondamente esta particularidade portuguesa de estudar a regra e andar por entre suas lacunas para atingir o seu fim – ser vacinado. Isto é como pensar no confinamento – andamos a estudar as exceções para depois sair de casa para passear, ir para uma festa, estarmos em sociedade de qualquer forma. Criar regras que limitem é difícil; todos temos uma formação em advocacia que faz parte do nosso instinto para perceber por onde escapar. Acompanhado de tudo isto, temos sempre uma capacidade moralista perante a sociedade, mas com aquela dose de culpa na consciência. Afinal de contas só deve mesmo acontecer aos outros.
Em relação ao plano de vacinação eu, tal como a maioria dos portugueses, sou um especialista e acho que as regras estão mal. Esta estratégia de vacinação em massa está mal construída, quando na realidade há que vacinar duas vezes a população portuguesa.
Tenho duas possibilidades que poderiam contribuir para este processo ser de forma rápida e transparente, a bem da nossa saúde e da nossa economia. Por falar em economia, vamos envolver a economia local neste processo.
Espetar a agulha no braço demora pouco e tem pouco que se lhe diga. Por essa razão, já que somos um povo que adora ir aos supermercados porque é uma exceção ao confinamento e permite que se continue a ir em aglomerados familiares, a vacina podia ser administrada pelo operador de caixa no momento do pagamento. Ora ponha lá o ombro à mostra e espeta a agulha. No mês seguinte a outra toma. Para registo seriam os cartões de pontos e cupões. Além disso, juntar uns euros ou pontos em cartão ou mesmo um cupão para incentivar a segunda toma no mesmo estabelecimento comercial.
Se estivermos a pensar em apoiar o comércio local, também se pode convocar a rede de cafés e pastelarias do nosso país. Assim, cada vez que vamos buscar o pão ou tomar o café, no momento de pagar entregava-se o dinheiro e mostrava-se o ombro.
Considero estas formas mais igualitárias de vacinação.
Tendo em conta as poucas doses que chegam, as mesmas seriam distribuídas de forma silenciosa e aleatória nos cafés e supermercados para evitar os aglomerados como a promoção dos 50% do PD, no primeiro de maio de há anos, para evitar a cobertura noticiosa das televisões tipo CMtv, para evitar aquelas entrevistas ridículas às pessoas a perguntar como correu a toma da vacina.
A inexistência de regras seria a melhor regra porque assim, em vez de estarmos preocupados em descobrir qual a lacuna, ficamos bloqueados por não haver por onde “furar”.
Manuel Pereira de Sousa