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BLOGUE DO MANEL

A vida tem muito para contar e partilhar com os demais. Esta é a minha rede social para partilhar histórias, momentos e pensamentos, a horas ou fora de horas, com e sem pés nem cabeça. Blogue de Manuel Pereira de Sousa

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A vida tem muito para contar e partilhar com os demais. Esta é a minha rede social para partilhar histórias, momentos e pensamentos, a horas ou fora de horas, com e sem pés nem cabeça. Blogue de Manuel Pereira de Sousa

PADRE ROBERTO O ÓPIO DE CANELAS?

Manuel Pereira de Sousa, 08.12.14

“A religião é o ópio do povo”. Sempre ouvi esta frase e sempre achei que era a maior das verdades que traduziam os efeitos da religião no povo – digo isto com todo o meu sentimento de crente Católico, que procura na religião moderação e abertura.

 

O que temos vindo a assistir em Canelas, Vila Nova de Gaia - onde a revolta popular contra a mudança de lugar do Padre Roberto e substituição por um novo pároco -, é bem o exemplo do ópio em que se tornou a religião para a grande maioria dos populares; onde a emoção se está a sobrepor à razão com o consentimento do dito Padre Roberto que muito deve estar a gostar de ser aclamado como o Salvador. Diz a doutrina da Igreja Católica, a mesma que receio não ser a prática de Canelas, que o único Salvador é o Cristo Ressuscitado. Os sacerdotes são os pastores que conduzem o rebanho e segundo os quais foram criados os pilares da Igreja. Os sacerdotes têm como missão única servir a Cristo e orientar o rebanho, tendo por vezes a necessidade de mudarem de terra como aconteceu com os primeiros Apóstolos, que em vez de ficarem amiguinhos e reunidos em tainadas partiram mundo fora a cumprir a missão que lhes havia sido destinada.

 

Para quem está de fora de tanta emoção, como eu, fico perplexo ao ver todo o excesso de emoção que a população tem pelo padre Roberto. Compreendo que seja uma excelente pessoa; compreendo que muito tenha feito por aquela gente; compreendo que a separação seja difícil; compreendo que façam uma vigília de homenagem; compreendo que fiquem insatisfeitos com o Bispo. Compreendo muita coisa, mas não compreendo o ódio que andam a destilar nas ruas. A religião destes parece mais voltada para o Padre do que para Deus. Fico ainda sem perceber porque tratam tão mal o substituto que foi designado pela diocese como se fosse o culpado de tudo o que está a acontecer – ninguém merece tal tratamento. Louvado seja este homem por assujeitar a sua vida a entrar naquela Igreja só para cumprir a sua missão de celebrar uma missa – é preciso coragem. Falta de sensatez das pessoas que atiram pedras sem saber a quem estão a tirar e que se tornam no mau exemplo do que é a religião – mas a História está cheia destes casos.

 

A análise desta situação tem de ser feita de uma forma desapaixonada, de uma forma distante porque acredito que as pessoas desse lugar perderam a completa noção da imagem que estão a passar para o exterior. Estas manifestações são de tal forma apaixonadas, que nem quando o Governo fecha escolas, tribunais, centros de saúde, estações de correios se assiste a algo tão violento e sem qualquer explicação à luz da razão. Agora com um pouco de frieza: se o padre morresse, esta gente voltaria as costas a Deus?

 

Acredita-se que a discussão é por causa da colocação de uma estátua em honra de outro pároco benfeitor da terra. Coloquem a estátua num sítio qualquer, dentro da igreja, no adro ou numa rotunda e acabe-se com esta guerra sem nexo e sentido e de tamanha irracionalidade. Se o Padre Roberto é assim tão boa pessoa, custa-me perceber que a sua ação seja com ameaças por não ter acatado a ordem do Bispo. Como ameaça foram entregues cartas anónimas com a denuncia de corrupção e um caso de pedofilia de um sacerdote. Porém, as suas ameaças não travaram a decisão do Bispo: manter a transferência e entregar os casos ao Ministério Público para investigação – decisão coerente e racional em vez de emocional. Se a transferência do Padre Roberto não fosse equacionada, o mesmo faria silêncio sobre os casos graves como a corrupção e a pedofilia? Onde está a boa pessoa coerente com os princípios Católicos e a quem acham um modelo de Padre – na minha humilde opinião o padre Roberto não é um bom sacerdote, quando atualmente se exige à Igreja transparência, denuncia e punição de casos que muito tem manchado o seu nome por todo o mundo. Não será um bom sacerdote se mantiver a intenção da revolta e não for capaz de serenar os ânimos do povo, para que este respeite o novo pároco.

 

Pesa-me saber que as pessoas não vão à missa porque não é o padre Roberto a celebrar e tenham um juízo de valor de outro padre de quem não lhe ouviram palavras – então o padre Roberto criou a ideia errada nas pessoas de Canelas: ele tornou-se no ópio de Canelas.

A CARTA DE JOSÉ SÓCRATES AO PAI NATAL

Manuel Pereira de Sousa, 03.12.14

Querido Pai Natal,

Escrevo esta carta num dos momentos mais complicados da minha vida. Como deves saber já não vivo em Paris, na casa emprestada pelo meu amigo e de forma pacata. De um momento para o outro, sem ter vontade, mudei-me para Portugal ainda que forçado e agora estou a viver em clausura numa prisão, em Évora. Pensava que apesar de tudo a minha vida fosse sossegada, mas são inúmeras as pessoas que me vêm visitar, apesar de ficarem na entrada da prisão. A minha vida virou um desassossego, bem maior que o que levou Fernando Pessoa a escrever o seu livro e as suas passagens num pequeno quarto. Também vivo num pequeno quarto a que chamam de cela, onde apenas tenho a minha cama e uma cadeira onde me sento e medito com o passar das horas. Sabes, de vez em quando, tenho uns pensamentos filosóficos e peço ao guarda da prisão para me levar até à cabine para ligar para os jornais ou para a televisão para ditar umas coisas para serem públicas. Não me conformo estar resignado a um protagonismo sem uma presença física minha. Todo o mundo fala de mim, mas ninguém me viu realmente, apesar de umas imagens distorcidas que as câmaras captaram quando passei de carro da polícia ou lá no tribunal por trás das cortinas. Não me conformo em não poder dizer um adeus e falar com aqueles jornalistas que durante anos de primeiro-ministro destilei um certo ódio, de forma a espezinhar o seu trabalho.
Vivo tempos muito conturbados, que nem os meus mais próximos querem ligar nenhum, tirando o Mário Soares que tem saído em minha defesa, embora tenha caído no ridículo ao tentar sobrepor a minha honestidade sobre as decisões daquele juiz e daquele procurador a quem lhes dei umas boas instalações para trabalharem; e agora retribuem-me daquela maneira.
Eu sei que sou rico e que não devo pedir nenhuma prenda de Natal. Eu reconheço o descuido ao transferir dinheiro que era o suficiente para despoletar os alertas do sistema bancário, mas era eu, era eu e ninguém percebeu isso. Eu que sou um cliente da Caixa Geral de Depósitos e que sempre tive lá a minha humilde conta bancária e fazem-me isto. Assim tratam os clientes.
Querido Pai Natal, eu sei que estás ocupado, mas precisava de uma oferta tua; eu queria que me oferecesses um Magalhães para me ir entretendo enquanto estou aqui a viver na casa de Évora. Felizmente já tenho uma televisão que me vieram trazer e que tem sido a minha companhia. Os programas do Goucha são a minha ocupação da manhã. Já a Júlia Pinheiro tem sido difícil aguentar os seus berros. A Casa dos Segredos está a ser interessante acompanhar, pena eles não saberem que estou preso e convidavam-me para ir para lá fazer companhia e depois ver se eles conseguem descobrir o meu segredo – tenho tantos…
O Magalhães é tudo o que preciso neste momento. Talvez comece a escrever aqui umas memórias em vez de estar a ditar ao telefone ou termine o meu curso de filosofia.
Espero que compreendas a necessidade do meu pedido. Reconheço que não me tenho portado muito bem nos últimos tempos, mas prometo que estou a mudar.

Obrigado!

(texto satírico, qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência)

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