Vivemos o culto da morte com muita intensidade, na procura da vida, da vida em plenitude.
Por vezes penso que os Homens têm o culto exagerado pela morte, desde os funerais, ao dia dos Finados (2 de Novembro), à Semana Santa. Dá-se muita importância a este estado de vida terrena, que não é nada mais nada menos que o fim. Fica a incógnita se este é o fim de tudo, da vida e da construção do indivíduo ou se apenas os fim de uma etapa da vida do Homem; o fim como ser de carne e osso, o fim de uma vida terrena e a passagem para uma outra vida, num outro estado físico numa dimensão inimaginável. Na realidade, o mundo Cristão (Católico e Protestante) acredita nessa outra dimensão de vida, que está para além da vida na Terra. Acreditam numa vida eterna, perfeita e em plenitude e é nessa esperança que vivem a sua fé ao longo dos dias.
Se não fosse esta crença numa continuidade faria sentido existir o Cristianismo? Faria sentido a existência de uma Igreja Católica? Faria sentido a existência de Deus?
São questões de difícil resposta, sobre as quais os grandes teólogos se debruçaram na procura de respostas que não são concretas porque tudo que envolva a fé não é concreto e move-se para além do princípio da relatividade.
É facto que a base que sustenta as Igrejas Cristãs é a doutrina do Messias, doutrina centrada na ressurreição e como doutrina para a mudança do mundo e do Homem, de forma a prepara-lo para a morte e passagem à vida plena, mesmo que necessitando de passar por fases de purificação. Se não existisse crença na ressurreição não existiria Igreja, não existiria crença no mundo sobrenatural que se prolonga para além do estado físico.
É por isto que o culto da morte está fortemente enraizado na vida de muitos e na cultura de muitos povos que anseiam pela libertação, anunciada e apregoada durante séculos e séculos e não se sabe até quando. Este culto da morte pode também ofuscar o culto da vida que temos e das alegrias que também cá podemos viver. Esquecemos, muitas vezes, que ainda estamos vivos e que ainda há muita vida por aí para ser aproveitada. A morte não se trava e é uma etapa da vida que obrigatoriamente temos de passar, independentemente do que possa ou não existir depois. Mas, a pesar dessa condição há que aproveitar o hoje e o agora.
Apesar de não existirem certezas quanto à existência do outro lado, de sermos imortais, existe a certeza de que a memória de alguém pode ficar imortalizada, dependendo da sua obra terrena e do legado que possa ter deixado por cá. Muitas almas ficaram imortalizadas pela música, escrita, política, trabalho social/humanitário, etc. Pelo menos esse têm sobrevivido com o passar dos tempos e ainda se manifestam vivos cada vez que os evocamos pelas boas e mesmo más razões.
Acredita-se que a imortalidade defendida pelas religiões está ao alcance de qualquer um, pelo menos segundo a doutrina de Cristo. No entanto, existe a condição de sermos bons caminhantes e seguidores de princípios base que orientam o Homem por uma conduta correcta. Conduta essa que pode ser muito controversa e que pode chocar com determinados princípios sociais instalados, que se modificam com o passar dos tempos e a evolução do mundo.
Será que a grande maioria apenas tem uma determinada conduta social a pensar na entrada no Reino dos Céus? Se este Reino não existir ou se não fosse apregoado como seria a conduta de muitas pessoas?
O sentido da imortalidade que muitos acreditam possuir ou que simplesmente acreditam ainda tem muito a ser explorado, com muitas questões, com muitas respostas em aberto. O princípio da Ressurreição que Jesus doutrinou é uma grande dúvida para muitos, uma certeza para alguns crentes. Todos caminhamos no sentido da morte. Será essa outra vida a perfeição e plenitude? Será que o Homem apenas atinge esse auge com a morte? A perfeição pode ser atingida na vida terrena? Pelos vistos aqueles que atingem esse auge em vida são considerados pelos demais como os loucos porque a sua pessoa passou a estar a anos-luz da realidade terrena e da restante Humanidade.
Se a outra vida existe e é bem melhor que esta que vivemos porque lutamos por viver mais tempo na terra? Porque lutamos contra o envelhecimento? Porque procuramos ser imortais de uma outra forma? Será que existe o medo de morrer e não existir mais nada para além da morte?
O culto da morte está enraizado porque nela se encerram muitas incertezas, curiosidades e medos. Viveremos sempre com essa incógnita e com essa sensação.
M. Brunner