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BLOGUE DO MANEL

A vida tem muito para contar e partilhar com os demais. Esta é a minha rede social para partilhar histórias, momentos e pensamentos, a horas ou fora de horas, com e sem pés nem cabeça. Blogue de Manuel Pereira de Sousa

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PRAXE – UM MÉTODO ESTRANHO DE INTEGRAÇÃO II

Manuel Pereira de Sousa, 03.02.14

Os acontecimentos na praia do Meco continuam a dar que falar, no momento em que decorrem as investigações ao sucedido, pois muito há por esclarecer – uma série de peças separadas que deixam no ar o mistério daquela noite. Praxe? - falta esclarecer, embora tudo indique que sim. Acidente ou homicídio por negligência? – há uma testemunha que ainda não foi ouvida e que poderá ser a peça central de tudo.

Este terrível acontecimento que vitimou seis jovens trouxe para as primeiras páginas um assunto delicado e que já abordado há vários anos, embora desta vez com maior importância e impacto: as praxes.

Diz o dicionário Priberam, que praxe significa: uso estabelecido; sistema ou conjunto de formalidades ou normas de conduta; o mesmo que praxe académica (Conjunto de regras e costumes que governam as relações académicas numa universidade, baseado numa relação hierárquica).
No sentido prático do termo, praxe entende ser um método de integração para os recém-chegados ao ensino superior, baseado em práticas que são decididas pelo conselho de praxe – práticas duvidosas e altamente deploráveis. Nas diversas cidades onde existem faculdades estamos acostumados a ver os rituais de praxes com uma série de alunos a desfilar, em pijama ou com outros trajes, pintados, em altos cânticos ao seu curso ou cânticos em que se humilham. Mas, as praxes vão muito para além disso, existem atividades que nem sempre são visíveis ao público e que são do mais exagerado e sub-humano que existe; as recentes imagens divulgadas nas televisões e os inúmeros testemunhos de caloiros praxados são prova de que as praxes ultrapassam qualquer limite do razoável – se é que existe algum limite razoável para a prática da praxe.

Existe limite para praxar? Existe boa e má praxe? Se pensarmos que o ato de praxar é nada mais nada menos que exercer poder sobre o outro, o recém-chegado, como forma de superioridade e desejo de vingança por também ter sofrido com a praxe, todas as praxes se tornam num ato mau e deplorável. Assim sendo, não entendo o que o sr. Ministro entende por punir as praxes “absurdas e atentatórias da dignidade Humana”, quando todas elas o são.

As praxes sempre existiram no meio académico e todos sabem bem o que nelas se pratica, embora as próprias faculdades pouco se preocuparam com o que acontecia – agora demonstram-se alarmadas como trancas à porta depois da casa arrombada. Por muito que se diga que a praxe pode ser recusada pelo caloiro, sabem muitos caloiros que isso lhes pode constituir uma penosa sanção no decorrer dos seus estudos – não passa pelo crivo da integração, passa a ser um excluído do meio. Sabemos muito bem que a maioria não é praxada de livre vontade porque receia a represália de se colocar contra os doutores – acredito pouco que exista quem deseje ser humilhado como se isso constituísse para si um ato de dignidade.
Proibir a prática das praxes pode ser considerado por muitos como um ato de repressão e antidemocrático, quando estas não são prática democrática – se fossem nem existiam.

Aquilo que se vê na rua é apenas a ponta de um iceberg, daquilo que acontece em locais menos públicos e fora do alcance dos olhares de todos. Os sucessivos relatórios acerca destas práticas são bem elucidativos do que realmente acontece, embora os órgãos responsáveis das Universidades se desresponsabilizem por algo que é difícil controlar e consideram para lá da faculdade, ainda que o nome das faculdades, dos cursos, assim como os trajes dos doutores sejam presença nas praxes.

Sabemos que será sempre difícil controlar estes jogos de poder com imagem de integração social, pois em qualquer organização, onde exista um poder instalado, podem existir abusos que são difíceis de condenar ou mesmo extinguir; não se compreende que em relação às praxes se seja tão tolerante a estes abusos como se fossem um mal menor e provocassem menos danos físicos e psicológicos – a comprovarem-se as teorias, o Meco é uma consequência grave que pode sempre repetir-se.